Mesmo com economia robusta no 2º tri, alta da Selic ainda não está 100% no radar

Mesmo com economia robusta no 2º tri, alta da Selic ainda não está 100% no radar

Os dados divulgados hoje pelo Banco Central e pela FGV mostram que a economia brasileira manteve sua pujança no 2º trimestre do ano mesmo com os efeitos negativos das enchentes no Rio Grande do Sul em maio e devem manter o BC cauteloso na decisão sobre os rumos da taxa Selic, dizem os economistas. Mas ainda não há convicção da necessidade de o Copom elevar os juros na sua reunião de setembro.

O BC divulgou nesta manhã que seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) cresceu 1,40% em junho e avançou 1,1% no 2º trimestre, bem acima do esperado pelos analistas. Um pouco mais tarde, a FGV publicou seu Monitor do PIB, que apontou a atividade evoluindo 1,4% na leitura mensal e 1,1% na trimestral em junho.

Essa robustez da atividade econômica já havia sido observada em outros dados e pesquisa, conforme lembra Mirella Hirakawa, economista e coordenadora de pesquisa da Buysidebrazil, que cita as apurações de indústria, comércio varejista e serviços pelo IBGE e a última revisão para a safra agrícola.

“Todos esses dados mostram que as estimativas do mercado sobre o impacto do desastre climático no Rio Grande do Sul S foi superestimado. Na indústria teve retomada de subsetores relevantes, que trazem atenção pelo efeito rebote, especialmente derivados de petróleo, fumo, e produtos químicos”, comenta.

Ela diz que essa atividade aquecida coloca um viés de alta nas estimativas do PIB, algo reconhecido pelo próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, em evento privado nesta manhã. Ele disse que as projeções de PIB do Banco Central devem passar dos atuais 2,3% para algo próximo de 2,5%.

Mirella Hirakawa vê o BC num momento de cautela, com atividade ainda aquecida e revisões de hiato do produto mais fechado. “Olhando para a inflação, ainda não tem grandes impactos da transmissão do mercado de trabalho mais aquecido para serviços, por exemplo. Mas ainda mostra que o BC deve traduzir esses dados em cautela. Nossa expectativa é tenha uma manutenção da taxa de 10,50% até o final de 2025”, prevê.

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Para Rodolfo Margato, economista da XP, os dados comprovam uma atividade econômica resiliente, na esteira de um mercado de trabalho aquecido, com aumento consistente da população empregada e ganhos de massa de renda .

O Tracker do PIB da XP, hoje em 2,2% está com viés de alta segundo Margato e deve ser revisto para um nível de 2,5% ou até maior. “Torna mais desafiadora a tarefa do BC de levar a uma convergência da inflação à meta de 3%. Há um debate importante da necessidade de elevação ou não de juros no curto prazo.”

Menos impulso fiscal?

André Valério, economista sênior do Inter, também espera um BC ainda cauteloso em sua comunicação, mas diz não ver motivo para alteração na conduta da política monetária da autarquia. Sua expectativa é de que a Selic se mantenha em 10,50% até, pelo menos, o fim do primeiro trimestre de 2025.

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Mas pode ocorrer um outro efeito dessa atividade mais robusta do que a esperadas, segundo Valério. “Cria um momento oportuno para que o governo reduza o impulso fiscal, a fim de alcançar a meta do arcabouço fiscal, sem comprometer a atividade, o que contribuiria para a redução dos juros e, consequentemente, a manutenção do nível da atividade em patamar mais elevado”, avalia.

Na sua opinião, mesmo com a expectativa de um menor impulso fiscal para o restante do ano, com o governo pressionado para cumprir a meta fiscal, o PIB caminha para um crescimento de 2,5% em 2024. “Com a economia se mostrando bastante dinâmica, o que explica, parcialmente, a inflação pressionada que se observa nos últimos meses.”

Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, por sua vez, diz que os dados recentes reforçam o cenário base do Banco Central do Brasil de dinamismo maior do que o esperado do nível de atividade. “Também corroboram a perspectiva de uma condução de política monetária vigilante por parte da instituição, comenta.

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Na avaliação da G5Partners O IBC-Br de junho consolida a visão de que o PIB do segundo trimestre será forte, mesmo considerando o evento climático que atingiu o Rio Grande do Sul na passagem de abril para maio. “No nível macro, a atividade no Brasil e no estado acabaram mostrando maior resiliência do que antecipado anteriormente por grande parte dos analistas”, reconhece.

“De fato, o crescimento de 1,1% do IBC-Br no segundo trimestre está em linha com a nossa expectativa de expansão do PIB de 1,0% para o mesmo período. É um crescimento forte e, se efetivamente verificado, será inclusive maior que o do primeiro trimestre (+0,8%), que já havia chamado atenção.”

Na opinião de Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, o dado foi mais um indicador de que a atividade econômica no país permanece bastante aquecida com potencial de colocar pressão adicional sobre a dinâmica inflacionária e dificultar a retomada nos cortes da Selic.

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Mas ele pondera que há “bons ventos vindo do norte, com a iminência do início no ciclo de afrouxamento monetário nos EUA com grande potencial em alterar o balanço de riscos”.

Alexandre Dellamura, head de conteúdo da Melver, o dado do IBC-Br de junho demonstra a força dos estímulos fiscais do primeiro semestre e reforça a linha de que o PIB pera próximo de sua capacidade total. “Também explica a preocupação do Banco Central com a inflação e a resistência para cortes da Selic, já que o maior crescimento reflete maior consumo e possível pressão sobre os preços”, afirma.

“É preciso lembrar que o relatório Focus do Banco Central indica previsão para o crescimento da economia brasileira de 2,20% em 2024, embora o governo já acredite em um PIB de 2,5% a 2,8% maior do que o de 2023.”

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