Recentemente, uma notícia do The Wall Street Journal revelou que a Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo, estaria considerando a construção de um novo jato para competir diretamente com os gigantes Boeing e Airbus. De acordo com a reportagem, a Embraer está explorando opções para desenvolver um jato de fuselagem estreita com o objetivo de sair do seu nicho regional e enfrentar de frente os modelos 737 MAX e A320neo, que dominam o segmento mais movimentado do mercado.
Atualmente, a empresa se destaca no mercado de jatos regionais com a família E2, que acomoda de 90 a 120 passageiros. Esse segmento está abaixo do mercado de jatos com mais de 150 assentos. Em março deste ano, a Morgan Stanley – companhia global de serviços financeiros -, declarou a Embraer como a melhor escolha para investimento aeroespacial, reforçando seu papel vital no desenvolvimento e empregabilidade da indústria brasileira.
Alexandre Magno, CEO da The Cynefin Co Brazil, especialista em serviços de consultoria em gestão empresarial e criadora do framework Cynefin, compartilha sua perspectiva sobre o movimento estratégico da Embraer:
“A indústria da aviação, mais do que qualquer outra, nos ensinou muito sobre lidar com contextos variados e contraditórios dentro de uma mesma organização. Empresas desse setor operam sob alta burocracia e regulação, enquanto equilibram seus negócios em um ambiente de extrema volatilidade,” comenta Magno.
O CEO explica que, embora a Embraer tenha declarado que seu foco está no portfólio atual, a possibilidade de desenvolver um avião comercial de longo curso levanta questões complexas. Nesse contexto, Alexandre aponta que o framework Cynefin poderia ser uma ferramenta valiosa para ajudar a empresa a navegar diante desses desafios:
“A Embraer possui a tecnologia e experiência necessárias para construir essas aeronaves, o que se alinha majoritariamente com os domínios Claro e Complicado do Cynefin. Desafios mais próximos desse tema provavelmente deveriam ser enfrentados com melhores práticas, playbooks, uma bela gestão de projetos e a intensa liderança de especialistas”.
No entanto, Magno ressalta que os desafios vão além da capacidade técnica. Decisões críticas, reestruturações organizacionais, impacto social e ambiental, novos modelos de negócios e estratégias de mercado são algumas das questões complexas que precisam ser exploradas de forma apropriada. Para esses casos, o CEO sugere um amplo portfólio de sondagens seguras para falhar, como o SafeToFailProbes, com experimentos de curto a longo prazo:
“Diferentemente do que muitos pensam, em algumas indústrias, experimentação rápida pode significar meses ou até anos para alcançar resultados plausíveis. No caso da Embraer, onde estamos falando de um produto que pode levar mais de uma década para entrar no mercado, isso provavelmente se aplicaria”, explica o CEO, que complementa ressaltando a importância de lidar com desafios complexos para poder realizar vários experimentos ao mesmo tempo:
“Um portfólio de sondagens apropriado para o domínio complexo deve incluir experimentos paralelos que são coerentes com o todo, mas possuem contradições entre si. Espaço para exaptação, obliquidade e ações de amplificação ou estancamento também são essenciais”.
Para Alexandre, a realidade das empresas é que todas enfrentam desafios que se distribuem pelos cinco domínios do Cynefin. No entanto, muitas empresas insistem em responder a esses desafios variados de uma única forma. Refletir sobre o potencial das SafeToFailProbes para experimentação, e como elas se complementam com iniciativas de maior controle, pode, sem dúvida, abrir novos horizontes para enfrentar desafios complexos.
fonte: Mika Mattos