A Reforma Protestante lançou bases firmes para a soteriologia (doutrina da salvação), mas nem todas as interpretações seguiram o mesmo caminho. O calvinismo e o arminianismo se tornaram os dois sistemas teológicos mais influentes dentro do protestantismo reformado. Para entender essa disputa que moldou a história da igreja, precisamos analisar os Cinco Pontos do Calvinismo (TULIP) em contraste com os Cinco Pontos da Remonstrância. Este embate teológico não é apenas um debate acadêmico; ele toca no coração do Evangelho e na relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana.
O CONTEXTO HISTÓRICO
Após a morte de João Calvino (1509-1564), seus seguidores sistematizaram sua teologia, que enfatizava a soberania de Deus na salvação. No entanto, um teólogo holandês chamado Jacobus Arminius (1560-1609) começou a questionar certos aspectos da doutrina calvinista. Após sua morte, seus seguidores, conhecidos como remonstrantes, apresentaram em 1610 um documento ao Estado holandês chamado A Remonstrância, onde delinearam cinco pontos principais em oposição ao calvinismo.
Os calvinistas responderam em 1618-1619 no Sínodo de Dort, reafirmando a doutrina reformada em cinco pontos conhecidos como TULIP, um acrônimo que sintetiza a teologia calvinista.
O acrônimo TULIP surgiu posteriormente ao Sínodo de Dort, consolidando as doutrinas calvinistas em cinco pontos fáceis de memorizar:
T – Total Depravity (Depravação Total)
U – Unconditional Election (Eleição Incondicional)
L – Limited Atonement (Expiação Limitada)
I – Irresistible Grace (Graça Irresistível)
P – Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos)
Esse sistema enfatiza a soberania de Deus na salvação e a total dependência humana da graça divina.

Mas e a Remonstrância? Possui um acrônimo similar ao TULIP?
Diferente do calvinismo, a Remonstrância nunca gerou um acrônimo amplamente aceito como o TULIP. No entanto, teólogos modernos formularam tentativas de acrônimos que representam os Cinco Pontos da Remonstrância. Um dos mais conhecidos é FACTS, elaborado por estudiosos arminianos contemporâneos:
F – Freed by Grace (through faith) (Libertos pela Graça mediante a Fé)
A – Atonement for All (Expiação para Todos)
C – Conditional Election (Eleição Condicional)
T – Total Depravity (Depravação Total com Graça Preveniente)
S – Security in Christ (Segurança em Cristo, mas com possibilidade de apostasia)
OS CINCO PONTOS: TULIP (calvinismo) e do FACTS (arminianismo)
Cada ponto de um sistema tem uma contraposição direta no outro:
- DEPRAVAÇÃO TOTAL vs. DEPRAVAÇÃO PARCIAL
Calvinismo: A natureza humana está completamente corrompida pelo pecado original, de modo que ninguém pode buscar a Deus sem que Ele primeiro regenere a pessoa (Romanos 3:10-12; Efésios 2:1-3). O homem não tem livre-arbítrio no sentido de escolher a salvação por si mesmo.
Arminianismo: O homem está caído, mas a graça preveniente de Deus capacita todos a responderem ao Evangelho. O pecado afetou a humanidade, mas a capacidade de aceitar a salvação ainda está disponível (Deuteronômio 30:19; João 7:17).
Diferença-chave: No calvinismo, a salvação começa exclusivamente com Deus. No arminianismo, há uma cooperação entre a graça de Deus e a resposta humana.
2. ELEIÇÃO INCONDICIONAL vs. ELEIÇÃO CONDICIONAL
Calvinismo: Deus escolhe quem será salvo antes da fundação do mundo (Efésios 1:4-5), sem levar em conta qualquer mérito humano ou resposta à fé. A eleição depende exclusivamente da vontade soberana de Deus (Romanos 9:15-16).
Arminianismo: Deus prevê quem crerá em Cristo e os elege com base nessa fé prevista (Romanos 8:29-30). A eleição é condicional à resposta humana.
Diferença-chave: O calvinismo enfatiza a soberania de Deus acima de tudo, enquanto o arminianismo coloca a eleição dentro do contexto da resposta humana.
3. EXPIAÇÃO LIMITADA vs. EXPIAÇÃO ILIMITADA
Calvinismo: Cristo morreu somente pelos eleitos. Sua morte foi intencionalmente eficaz para garantir a salvação daqueles que Deus escolheu (João 10:11; Mateus 1:21).
Arminianismo: Cristo morreu por todos os seres humanos (1 João 2:2; 2 Coríntios 5:14-15). A expiação de Cristo é universal, mas só é eficaz para aqueles que crerem.
Diferença-chave: O calvinismo vê a cruz como uma redenção eficaz para os eleitos, enquanto o arminianismo a vê como uma oportunidade de salvação para todos.

4. GRAÇA IRRESTÍVEL vs. GRAÇA RESISTÍVEL
Calvinismo: Quando Deus chama alguém para a salvação, essa pessoa inevitavelmente será salva (João 6:37; Atos 13:48). A graça é eficaz e irresistível.
Arminianismo: O Espírito Santo convence, mas as pessoas podem resistir e rejeitar a graça (Atos 7:51; Mateus 23:37).
Diferença-chave: o calvinismo, a graça é infalível e leva à conversão. No arminianismo, o homem pode resistir à obra do Espírito Santo.
5. PERSEVERANÇA DOS SANTOS vs. PERDA DA SALVAÇÃO
Calvinismo: Os eleitos nunca perderão sua salvação (Filipenses 1:6; João 10:27-29). Deus preserva os salvos até o fim.
Arminianismo: Os verdadeiros crentes podem cair da graça e perder a salvação (Hebreus 6:4-6; 2 Pedro 2:20-22).
Diferença-chave: No calvinismo, a salvação não pode ser perdida porque é sustentada por Deus. No arminianismo, o salvo precisa perseverar na fé, ou pode apostatar.
O calvinismo vê a salvação como um ato monergístico de Deus, enquanto nós pentecostais (Assembleias de Deus Brasileira) a vemos como um processo sinergístico entre Deus e o homem e defendemos os pontos da Remonstrância (FACTS).