Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), entre 2018 e 2024 cerca de 248 mil jumentos brasileiros foram abatidos e nos últimos 30 anos o Brasil perdeu 94% da sua população de animais da espécie.
Além desses números alarmantes, Pierre Barnabé Escodro, professor de Medicina Veterinária, inovação e empreendedorismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), alerta que se o ritmo de abates continuar dessa forma, a população de jumentos brasileiros pode deixar de existir até 2030.
Atualmente, no Brasil existem três frigoríficos com licença do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para abater jumentos (ou jegues, como também são chamados). Eles ficam na Bahia.
A principal demanda de jumentos vem da indústria chinesa de ejiao, um produto elaborado com colágeno extraído da pele dos jumentos e utilizado na Ásia como suplemento para melhorar a vitalidade.
Por ano a venda do colágeno extraído da pele dos jumentos movimenta globalmente de cerca de US$ 6,38 bilhões. Cada pele pode ser vendida por até US$ 4 mil, o que culminou ao abate indiscriminado e sem práticas de controle sustentável para atender a demanda crescente.
Contudo, o impacto sobre a espécie é alarmante. Em 1999 existia um rebanho de 1,37 milhão de jumentos, número esse que caiu para cerca de 78 mil em 2025.
Isso representa apenas seis jumentos para cada 100 que existiam há três décadas, colocando o Brasil em risco de levar a espécie à extinção nos próximos anos, caso medidas urgentes não sejam tomadas.
Fatores adicionais para o problema
Além do abate indiscriminado, existem outros problemas acerca da possível extinção dos jumentos brasileiros. São eles:
- Falta de manejo sustentável: no Brasil não existe uma cadeia produtiva organizada para a criação de jumentos. O abate ocorre de forma extrativista, sem reposição adequada e rastreabilidade, o que contribui ainda mais para o risco de extinção da espécie;
- Desvalorização e abandono: com a mecanização da agricultura e a substituição dos jumentos por veículos, muitos animais foram abandonados nas estradas. Esse abandono resultou na perda de seu papel tradicional na agricultura familiar nordestina, facilitando o processo de captura e abate em massa;
- Impacto social: o desaparecimento dos jumentos tem causado impactos significativos nas comunidades rurais, principalmente entre as mulheres, que dependem desses animais para o transporte de água, lenha e produtos agrícolas. Esse processo afeta diretamente a renda e a sobrevivência de diversas famílias que ainda utilizam os jumentos em suas atividades diárias.
Iniciativas para preservar os animais
Para tentar frear a queda na quantidade de jumentos brasileiros existem dois projetos de lei, que têm como finalidade proibir o abate desses animais no país.
São eles o PL nº 2.387/2022, que está no Congresso Nacional e já passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, e o PL nº 24.465/2022, que se encontra na Assembleia Legislativa da Bahia, também foi aprovado na CCJ e aguarda votação em plenário.
Além disso, pesquisadores e organizações de defesa animal propõem alternativas para a preservação dos jumentos, incluindo a criação de santuários, a reintegração dos animais à agricultura familiar e seu uso em terapias assistidas.
Essas abordagens visam garantir a continuidade da espécie de forma sustentável, sem recorrer ao abate industrial, e promover o bem-estar dos animais em diversas atividades sociais e econômicas.
Fonte: Exame,
FAQ
Por que os jumentos brasileiros podem ser extintos até 2030?
O principal motivo para a possível extinção dos jumentos brasileiros é o abate desses animais para exportação, principalmente para a indústria chinesa, que utiliza o colágeno extraído da pele dos jumentos para produzir suplementos.
Qual a população atual de jumentos no Brasil?
Atualmente, no Braisl há apenas cerca de 78 mil jumentos.
O que está sendo feito para frear a extinção?
Existem dois projetos de lei que estão tramitando para proibir o abate de jumentos brasileiros, são eles o PL nº 2.387/2022 e o PL nº 24.465/2022.
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