O PIB do Brasil e seus desafios

Por que a produtividade do Brasil é baixa?

A produtividade da economia brasileira vai mal. Os dados mostram que a capacidade do país de gerar riqueza a partir de seu capital humano está paralisada. A indústria, em especial, tem encontrado dificuldade para alcançar números positivos.

O que explica isso? Por que o Brasil não consegue ser mais eficiente?

Produtividade estagnada

De todos os deveres de casa que a economia brasileira precisa enfrentar, fazer mais com menos parece ser um dos mais difíceis. Dados recentes (e passados) provam isso.

Um estudo divulgado duas semanas atrás pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que a produtividade do trabalho na indústria da transformação (aquela que transforma matérias-primas em produtos finais ou intermediários, como a fábrica que usa o aço para fazer uma geladeira) caiu 2,8% em 2022. Foi a maior queda anual, excluindo 2021, desde o início da série histórica, no ano 2000.

A pandemia teve papel relevante nisso. A desorganização das cadeias globais, que provocou a escassez de insumos essenciais e elevou os custos de produção, prejudicou a fabricação de bens aqui e no resto do mundo.

O quadro negativo poderia ser um problema pontual, coisa dos últimos anos, mas não é. Faz mais de uma década que a produtividade da indústria brasileira (e não só esse segmento) está praticamente parada. Excluindo o agronegócio, que exibe crescimento expressivo, a economia brasileira como um todo apresenta uma produtividade que pouco ou nada progride.

Em 2010, o trabalhador brasileiro produzia, em média, o equivalente a R$ 35,50 por hora. Em 2022, essa equação ficou bem perto disso (R$ 36,30), como mostra o gráfico abaixo.

Gráfico com dados da FGV de 1996 a 2022 mostra que a produtividade da economia brasileira não avança desde 2010

E por que a produtividade brasileira não evolui? As razões são velhas conhecidas.

Baixo nível educacional

O Brasil investe, segundo dados de 2019 do Banco Mundial, 6% do seu PIB em educação, acima da média dos países da OCDE. Mas o resultado, na ponta lápis, é ruim. O desempenho dos estudantes brasileiros em leitura, matemática e ciências é bem inferior à média da OCDE, segundo o último estudo (Pisa) disponível, de 2018. Quando o assunto é alfabetização, o Brasil é um dos piores, ficando atrás de países como Uzbequistão e Azerbaijão – o dado é da pesquisa PIRLS de 2021, que comparou 43 países.

Isso importa, porque dificilmente haverá crescimento da produtividade sem a melhora da qualificação das pessoas. São os trabalhadores com boa formação (ao lado de novas tecnologias e melhorias de processo e gestão) que nos levam a uma maior eficiência.

Ambiente de negócios complexo — No Doing Business 2020, estudo do Banco Mundial que avalia o ambiente de negócios de 190 economias no mundo, o Brasil está na posição 124 do ranking. Colocam o Brasil nesse lugar as dificuldades encontradas aqui para registrar propriedade, iniciar um negócio, obter permissão para construção e pagar impostos (são 1.500 horas gastas por ano só com essa tarefa).

Pouca abertura comercial — No quesito corrente de comércio (soma das exportações e importações) como percentual do PIB, o Brasil fica na posição 197 entre 216 países, segundo levantamento de 2021 do Banco Mundial. Isso indica baixa abertura ao comércio internacional. Medidas de protecionismo como a taxação de importação, muitas vezes, fazem o país se voltar para dentro e produzir localmente mesmo sem o conhecimento ou ferramental necessários para isso. O resultado é a redução da competitividade e, portanto, menos produtividade.

Maquinário ultrapassado — Quase 40% das máquinas e equipamentos das empresas industriais no Brasil estão perto ou já superaram a idade indicada pelo fabricante como ciclo de vida ideal, segundo estudo da CNI. Além disso, 78% estão tecnologicamente defasados em relação aos modelos da indústria 4.0. Equipamentos obsoletos geram custos elevados para o empresário.

Investimentos tímidos — O Brasil investe pouco em melhorias que costumam trazer resultado no longo prazo. Ao olharmos para a taxa de investimentos de 172 países avaliados pelo FMI entre 2010 e 2021, o Brasil aparece no 137º lugar, com 18% do PIB destinado a investimentos.

Iniciativas recentes podem ajudar a mudar esse cenário negativo, como a reforma tributária, que promete simplificar o sistema de impostos brasileiro, e a reforma administrativa, que deverá apresentar medidas para tornar a máquina pública mais eficiente.

A questão é quanto tempo o Brasil vai levar para se tornar, de fato, um país competitivo na cena internacional.

Indústria recua em julho

Dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgados pelo IBGE na semana passada mostram que, em julho deste ano, a produção das fábricas brasileiras recuou 1,1% em relação a julho de 2022 . Na comparação com junho de 2023, a atividade industrial encolheu 0,6%, em linha com nossa projeção.

O quadro é de uma indústria com dificuldade para crescer. O volume da produção industrial segue estagnado desde meados de 2021.

Em julho, o segmento com pior desempenho foi o de bens de capital (que engloba principalmente máquinas e equipamentos fabris). Em 12 meses, a queda acumulada desse segmento é de 16,9%.
Com a taxa básica de juros da economia em nível alto, o custo de investimento em máquinas e equipamentos fica elevado, o que reduz a demanda por esses bens.

Mundo

Economia resiliente, dólar forte – Divulgados na semana passada, os dados do índice de gerentes de compras (ISM) do setor de serviços dos Estados Unidos reforçaram o diagnóstico de que a economia americana segue resiliente.
O ISM de serviços dos EUA subiu para 54,5 pontos em agosto, uma expansão maior que a vista no mês anterior. O setor segue impulsionado pelo mercado de trabalho aquecido, que gera renda e mantém o consumo de serviços elevado.

A percepção de um consumo forte corrobora a expectativa de que os juros ficarão elevados nos EUA por um bom tempo. Esse tem sido, aliás, um dos principais motivos para o fortalecimento do dólar ante outras moedas. Na semana passada, o índice DXY (que compara o dólar a outras moedas fortes, como euro, iene e franco suíço) bateu o maior patamar desde março.

Acreditamos que o dólar seguirá fortalecido nos próximos meses. Além da contribuição vinda dos juros americanos elevados (que leva investidores a preferir títulos dos EUA), a perspectiva de perda de fôlego da China e de uma possível recessão na Europa nos próximos trimestres contribui para que a moeda americana permaneça apreciada.

Petróleo em alta

Na semana passada, a Arábia Saudita e a Rússia anunciaram que seguirão em frente com o corte na oferta de petróleo no mercado global até, pelo menos, dezembro de 2023.

Com isso, os sauditas manterão a redução de 1 milhão de barris de petróleo por dia, o que corresponde a quase de 10% da produção total diária do país. A Arábia Saudita é a segunda maior produtora de petróleo global. Já a Rússia, que ocupa a terceira posição dessa lista, deixará de ofertar 300 mil barris por dia.

A decisão, disseram representantes dos dois países, tem como objetivo “apoiar a estabilidade e o equilíbrio dos mercados petroleiros”. Ou seja: trata-se de um esforço para evitar que os preços caiam, diante de uma demanda menor por petróleo em razão do crescimento econômico mais fraco da China e da Europa.

Refletindo a decisão, a cotação do petróleo alcançou, na semana passada, o maior patamar desde novembro de 2022. Acreditamos que, apesar do dólar forte e da desaceleração da economia global, o preço do petróleo pode seguir pressionado até o fim do ano.

fonte: C6 Bank

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