Estrutura misteriosa no oceano Pacífico pode ser do tempo dos dinossauros

Estrutura misteriosa no oceano Pacífico pode ser do tempo dos dinossauros

Examinando a Dorsal do Pacífico Leste, uma importante formação geológica que está dando origem a uma cordilheira oceânica, uma equipe de cientistas se deparou com uma estranha fatia de terra que pode ter sido no passado um antigo fundo do mar. Esse assoalho oceânico até agora não estudado fornece novas pistas sobre a dinâmica interna do nosso planeta e a evolução da superfície ao longo das eras geológicas.

Em um artigo recente, publicado na revista Science Advances, os pesquisadores explicam como usaram dados sísmicos para descobrir antigas placas oceânicas escondidas profundamente no manto da Terra, a camada intermediária entre a crosta e o núcleo. Essa área espessa foi encontrada entre cerca de 410 e 660 quilômetros abaixo da superfície.

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A equipe acredita que esse pedaço de fundo do mar agora descoberto pode fornecer insights sobre a estrutura misteriosa da chamada Província de Baixa Velocidade de Cisalhamento do Pacífico (LLSVP, na sigla em inglês), uma vasta região no manto inferior conhecida por atrasar inexplicavelmente a propagação das ondas sísmicas que medem terremotos.

Uma barreira de placas tectônicas no Oceano Pacífico

Diagrama das estruturas sob a atual placa de Nazca.Diagrama das estruturas sob a atual placa de Nazca.Fonte:  Wang et al., 2024 

Conforme o estudo, a área da zona de transição mais espessa mostrou velocidades de ondas sísmicas mais rápidas do que a média, segundo as novas imagens tomográficas. Isso sugere uma mudança na estrutura mineral devido a temperaturas mais baixas.

Para os autores, essa situação é o resultado de antigas subducções oceânicas ocorridas na idade mesozoica (entre 250 e 120 milhões de anos atrás), abaixo da atual Placa de Nazca. Nessa região, a Placa de Nazca está atualmente subduzindo (mergulhando) sob a Placa Sul-Americana.

Mas no seu lado oeste, está a cordilheira oceânica em rápido crescimento e um hotspot (área de atividade vulcânica intensa) sob as ilhas de Páscoa. Em meio ao Pacífico central e oriental, equipe identificou essa misteriosa lacuna estrutural.

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Primeiro autor do artigo, o geólogo Jingchuan Wang, da Universidade de Maryland nos EUA, explica: “Descobrimos que, nessa região, o material estava afundando a cerca de metade da velocidade que esperávamos, o que sugere que a zona de transição do manto pode agir como uma barreira e retardar o movimento do material pela Terra“.

Como o fundo do mar antigo produz “superplumas” hoje?

A ilha da Páscoa se formou em cima de um hotspot com intensa atividade vulcânica.A ilha da Páscoa se formou em cima de um hotspot com intensa atividade vulcânica.Fonte:  Getty Images 

A equipe propõe que o antigo pedaço do fundo do mar (que subduziu na Terra há cerca de 250 milhões de anos) pode estar funcionando como uma espécie de laje, mais fria e mais densa do que as regiões ao redor. Ele pode ser considerado tecnicamente como um fóssil de um fundo antigo do mar.

Afundados em uma região do manto que derrete, esses densos resíduos do que foi um dia um fundo oceânico do Triássico afundam profundamente nas camadas mais quentes do manto. Movimentando-se nessas camadas de temperatura mais elevada, o material antigo pode eventualmente produzir superplumas, grandes estruturas geológicas que podem influenciar a formação de magma e chegar à superfície da Terra.

Acredita-se que o hotspot que formou a ilha da Páscoa, no Chile, fique exatamente acima de uma dessas plumas. Esse ponto de anomalia térmica é caracterizado por intensa atividade vulcânica. O sistema, formado por uma série de ilhas vulcânicas, se desenvolveu à medida que a Placa do Pacífico se moveu para o noroeste, acima do hotspot.

Implicações da pesquisa em outras áreas do oceano Pacífico

Relação entre locais de subducção, espessamento da zona de transição e distribuição da LLSVP.Relação entre locais de subducção, espessamento da zona de transição e distribuição da LLSVP.Fonte:  Jingchuan Wang et al. 

Com os dados sísmicos coletados nesta pesquisa, a equipe está desenvolvendo um novo modelo para compreender melhor o movimento das placas tectônicas ao longo da história da Terra. Futuramente, esperam os autores, será possível estender essência da pesquisa atual para outras áreas do Oceano Pacífico, e até mesmo, além disso.

A expectativa de Wang é criar um grande mapa das antigas zonas de subducção e ressurgência, ou seja, locais onde o material subduzido aqueceu e retornou para a superfície da Terra em sua forma aquecida. A ideia é fazer um levantamento dos efeitos desse material tanto nas camadas profundas quanto nas superficiais do planeta.

Gostou do conteúdo? Então, fique por dentro de mais estudos como esse aqui no TecMundo e aproveite para conhecer também a zona de subducção de Cascádia, onde megaterremotos e tsunamis se formam. Até mais!

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