A Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), por meio da Delegacia Especializada de Adolescentes em Conflito com a Lei (Deacle), concluiu a investigação sobre a morte do jogador do sub-15, Murilo Costa Felix Oliveira, de 14 anos, ocorrida no dia 21 de setembro, no bairro São Geraldo, em Cariacica. Na ocasião, um amigo da vítima, de 15 anos, foi apreendido. As informações foram divulgadas em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (19), na Chefatura de Polícia Civil, em Vitória.
O titular da Delegacia Especializada de Adolescentes em Conflito com a Lei (Deacle), delegado Fábio Pedroto, destacou que o caso gerou grande comoção na sociedade, particularmente por envolver um atleta promissor, e impactou a própria equipe de investigação. “Este foi um caso que causou grande impacto na sociedade. A nossa equipe se comoveu bastante com a história do Murilo, um jovem promissor, e isso nos motivou a conduzir as investigações com o apoio de diversos órgãos, como a Polícia Científica e os Bombeiros”, afirmou o delegado.
Durante as investigações, foi possível reunir elementos que levaram à conclusão de que o adolescente investigado praticou um ato infracional análogo ao crime de homicídio culposo. Ele agiu com imprudência ao acessar uma arma de fogo sem a devida autorização e com negligência ao permitir que Murilo manuseasse a arma, resultando em um disparo fatal.
O delegado Fábio Pedroto explicou detalhadamente o ocorrido: “O adolescente acessou a arma de fogo no cofre do pai. A senha foi dada pelos responsáveis para que ele retirasse dinheiro, mas ele também se apoderou da arma. Após manuseá-la e gravar vídeos com amigos, ele a deixou em cima da mesa, sem perceber que havia recarregado a arma, e Murilo acabou efetuando o disparo acidental, o que o levou à morte”, disse Pedroto.
Além disso, o delegado destacou que, após o disparo, o adolescente investigado omitiu-se ao não acionar imediatamente o socorro público, decisão que atrasou o atendimento médico e contribuiu para a gravidade do ocorrido. “O tempo precioso entre o disparo e o acionamento do SAMU foi superior a 15 minutos. Sabemos que, em casos como esse, cada segundo conta. A demora no socorro aumentou as chances de agravamento da situação”, afirmou Fábio Pedroto. Em razão disso, o adolescente também será responsabilizado por omissão de socorro.
O delegado ainda ressaltou a responsabilidade dos pais do adolescente, que permitiram o acesso do filho à arma, mesmo sem entregá-la diretamente. “Os pais responderão por omissão, por terem permitido o acesso do adolescente ao cofre onde a arma estava guardada. O pai também será responsabilizado por posse irregular de arma de fogo, uma vez que a arma estava em condições ilegais, sem registro e adquirida de forma ilícita”, completou Fábio Pedroto.
Em relação à investigação, o delegado esclareceu que os pais estão em liberdade e que o adolescente também foi colocado em liberdade após a apreensão, aguardando o desfecho do processo. “A Justiça determinou a liberação do adolescente, que agora responderá por ato infracional, com a possibilidade de medidas socioeducativas, que podem variar de simples repreensão até internação por até três anos”, frisou.
Por fim, o delegado Fábio Pedroto fez um alerta importante à sociedade sobre os riscos do uso imprudente de armas de fogo e o impacto das redes sociais. “Vivemos em uma realidade onde a imediata busca por atenção nas redes sociais pode ter consequências trágicas. A tentativa de gravar vídeos e mostrar-se nas redes foi um fator fundamental para que essa tragédia acontecesse. Devemos refletir sobre como estamos lidando com as redes sociais e o uso de armas de fogo em nossos lares”, disse.
O capitão Loreto, perito do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo (CBMES), explicou a aplicação de um equipamento de escaneamento 3D utilizado para análise de áreas de risco e planejamento de segurança. O equipamento funciona mapeando pontos em um espaço tridimensional, formando trajetórias e identificando riscos, como em encostas ou edificações. “Ele permite escanear e registrar com precisão áreas, facilitando a reconstrução de cenas em caso de sinistro”, destacou o capitão.
Além de ser usado em situações de defesa civil, o equipamento também é fundamental em treinamentos de bombeiros e policiais. “A tecnologia é rápida e precisa, permitindo um mapeamento completo em apenas 3 a 4 minutos”, afirmou Loreto. Recentemente, o equipamento foi utilizado no caso envolvendo o Murilo, mostrando a importância da colaboração entre o CBMES, a Polícia Científica do Estado do Espírito Santo (PCIES) e a Polícia Civil para uma investigação precisa.
Adquirido há três meses, o equipamento tem sido essencial para a atuação do Corpo de Bombeiros, ampliando a eficiência no atendimento de emergências e na formação de profissionais. “A ferramenta tem se mostrado de grande valor, tanto em campo quanto no treinamento”, salientou o capitão Loreto.
O perito oficial criminal da Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES), Onésio Barbosa, do Departamento de Perícias Externas (DEPEX), destacou a importância do trabalho da Polícia Científica na análise do local do crime. Segundo Barbosa, a investigação foi essencial para determinar a posição da vítima e a trajetória do disparo. “O trabalho da polícia científica no local do crime foi fundamental para determinar a posição possível da vítima, a angulação do impacto do projétil e a coleta do projétil para comparações no laboratório de balística”, explicou Barbosa.
A equipe utilizou diferentes métodos para medir a distância do tiro até o local onde a vítima estava sentada. Barbosa detalhou que a análise das manchas de sangue e o uso de tecnologias, como o bastão balístico e o equipamento a laser, foram determinantes para a perícia. “Com o auxílio do bastão balístico e do equipamento laser, conseguimos determinar que a vítima estava sentada no momento do disparo”, afirmou.
O trabalho da equipe foi crucial para a elucidação dos fatos e Barbosa parabenizou o empenho dos envolvidos: “A trajetória foi calculada com precisão, o que nos ajudou a entender as circunstâncias do crime”. O esforço da Polícia Científica foi fundamental para esclarecer as condições do homicídio e contribuir com a investigação.
A perita oficial criminal da Polícia Científica do Espírito Santo, Priscila Lang Podratz, do Laboratório de Química Forense (LABQUIM), explicou a importância do exame residuográfico para esclarecer a dinâmica do disparo de arma de fogo no caso de Murilo.
De maneira simplificada, ela descreveu como a técnica permitiu determinar que Murilo esteve em contato com resíduos de disparo, confirmando sua participação no evento. “A análise foi realizada a partir da coleta de resíduos na mão de Murilo. A técnica padrão para esse tipo de análise é o uso do MFDS, um equipamento de microfone eletrônico de varredura, que não temos na Polícia Científica. Por isso, fizemos uma parceria com a Polícia Federal, onde as análises foram realizadas em Brasília”, explicou a perita.
A análise residuográfica identifica partículas específicas que são deixadas nas mãos após um disparo de arma de fogo. “Essas partículas contêm três elementos-chave: chumbo, bário e antimônio, que são formados quando a munição é disparada. A presença desses três elementos em uma única partícula é um indicativo determinante de que ocorreu um disparo”, afirmou Priscila Lang Podratz.
Após a coleta dos resíduos na mão de Murilo, a análise em Brasília confirmou a presença dessas partículas na mão direita dele, reforçando a conclusão de que o disparo realmente ocorreu. “Analisamos a composição química e a morfologia das partículas, que devem ter características específicas, como a fusão em alta temperatura, típicas de um disparo”, destacou a perita.
Essa análise foi fundamental para a investigação, já que os resultados confirmaram que Murilo estava envolvido no incidente, com a presença das partículas determinantes na mão dele. Priscila Lang Podratz ressaltou a importância dessa técnica: “O exame residuográfico é o padrão ouro para esse tipo de análise, devido a sua alta sensibilidade e especificidade. Foi um trabalho essencial para entender a dinâmica do caso.”
O perito oficial criminal da Polícia Científica do Espírito Santo, Marcos Barbosa, do Departamento de Perícias em Eletrônicos (DEPE), detalhou como as análises dos celulares apreendidos no local do fato foram cruciais para a investigação. “Os celulares pertencem às pessoas envolvidas na cena do crime e estavam diretamente relacionados ao ocorrido”, explicou Barbosa. Ele destacou que um dos aparelhos foi apreendido na residência de um dos envolvidos, e as trocas de mensagens entre os indivíduos se mostraram fundamentais para reconstruir a linha do tempo dos eventos.
“As trocas de mensagens foram essenciais, principalmente pela linha do tempo. Essas mensagens foram extraídas de maneira que preserva a integridade dos dados, o que nos permitiu visualizar o conteúdo das conversas, o momento exato em que ocorreram e o tempo entre elas”, afirmou Marcos Barbosa.
Ele destacou que as mensagens mostram claramente a tensão e o desespero do proprietário do celular após o incidente. “Ele começa a expressar seu favor e revela que o ato foi totalmente involuntário. A conversa mostra também que ele começou a se comunicar com amigos, convocando-os para o local do ocorrido”, acrescentou o perito.
Barbosa ressaltou a importância da preservação das mensagens e dados extraídos, pois eles ajudam a entender melhor o contexto do incidente. “Essas mensagens revelam a intencionalidade, o terror e o desespero do momento, além de proporcionar um vislumbre da atmosfera no local do fato. Os vestígios digitais são vitais, pois permeiam a vida das pessoas e ajudam a estabelecer o que realmente aconteceu”, disse ele.
Embora o trabalho pericial se concentre na extração e análise dos dados, o perito destacou que a interpretação desses dados cabe à investigação. “Nosso trabalho não envolve juízo de valor. Nós extraímos os dados, seja imagens, vídeos ou mensagens, e fazemos uma pré-filtragem. Esses dados são então contextualizados no inquérito policial e no processo, ajudando a equipe investigativa e o Ministério Público a compreender o caso de forma mais clara”, acrescentou Marcos Barbosa.
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