Imagine: O Encontro De Cantor Ário Com O Diácono Atanásio – Religião

Imagine: O Encontro De Cantor Ário Com O Diácono Atanásio – Religião

Alexandria, ano 319 d.C.

A cidade de Alexandria fervilhava. O sol poente tingia as águas do Nilo de dourado e púrpura, enquanto as ruas do bairro central se enchiam de cidadãos animados. Comerciantes encerravam suas vendas, estudiosos encerravam seus debates na grande Biblioteca, e marinheiros, artesãos e até crianças corriam para a praça principal, onde algo inusitado estava prestes a acontecer.

No centro da praça, sobre um palco de madeira rústica, um homem magro, de olhar carismático e barba alinhada, ajeitava sua túnica simples. Ário, o controverso presbítero, ajustou a lira em suas mãos e sorriu para a multidão. Ele era um cantor talentoso, e sabia que sua voz podia encantar até os mais cautelosos.

Os rumores sobre sua apresentação haviam se espalhado. Sua nova composição, chamada “A Canção do Filho”, prometia ensinar o povo sobre a natureza de Cristo. Porém, não era uma música qualquer. Era uma obra pensada para difundir sua doutrina: que Cristo era a mais gloriosa criação de Deus, mas não Deus em essência.

Do outro lado da praça, apoiado em uma coluna da grande basílica, um homem de postura firme e olhar penetrante observava tudo. Seu nome era Atanásio, diácono e discípulo do patriarca Alexandre. Ele não era um homem de discursos vazios, mas de verdades afiadas como lâminas. Seu coração ardia, pois sabia que as melodias de Ário envenenavam a fé do povo.

O Canto do Herege

Ário tocou os primeiros acordes e sua voz ecoou pela praça:

“Havia um tempo em que Ele não existia,
O Pai O criou com poder e amor!
O Filho é grandioso, mas não é eterno,
Pois Deus antes d’Ele já era Senhor!”

A multidão começou a balançar a cabeça, acompanhando o ritmo. Alguns repetiam o refrão, suas mentes capturadas pela melodia envolvente.

Atanásio franziu o cenho. Ele via os olhos dos ouvintes brilhando, mas sabia que aquele brilho não era luz – era engano. O erro cantado entrava nos corações como um veneno doce.

Ário abriu os braços, encorajando todos a cantar com ele. O povo, de forma quase involuntária, repetia as palavras. Ele sorriu, pois seu plano estava funcionando.

Mas então, antes que pudesse continuar, um som grave e poderoso quebrou o encanto da praça.

“Mentira!”

A voz retumbou como um trovão. O povo parou. Os olhos se voltaram para a coluna da basílica.

Atanásio havia falado. Mas sua voz não era a de um mero diácono – era a de um leão da fé.

Ele avançou pela multidão e subiu no palco. Seus olhos fitavam Ário, mas suas palavras eram para o povo.

O Rugido da Verdade

“Ouçam, filhos de Deus!”, bradou Atanásio, elevando sua mão. “O que este homem canta são palavras enganosas! O próprio Cristo disse: ‘Eu e o Pai somos um’ (João 10:30). Como poderia haver um tempo em que Ele não existia?”

A multidão se agitou. Ário apertou a lira, incomodado, mas manteve o sorriso.

“Mas, nobre Atanásio,” retrucou ele, “não está escrito que Cristo é o ‘primogênito de toda a criação’ (Colossenses 1:15)? Não significa isso que Ele foi criado?”

Atanásio respirou fundo. Ele sabia que as palavras de Ário podiam confundir os desavisados. Mas ele também conhecia a verdade.

“A palavra ‘primogênito’ não significa ‘criado’, mas sim ‘o herdeiro, o supremo sobre tudo’!”, respondeu ele, voltando-se para o povo. “Cristo não é uma criatura, Ele é o próprio Criador! Como diz João: ‘No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus’ (João 1:1). Antes do tempo, antes do mundo, antes de tudo… Cristo já existia!”

A multidão murmurou. Alguns se entreolharam, como se despertassem de um sono.

Atanásio então fez algo inesperado. Ele ergueu a voz em cântico:

“O Filho é eterno, Senhor dos Senhores,
Do Pai Ele veio, luz entre as dores!
Não há um tempo em que não existiu,
Pois n’Ele e com Ele tudo se uniu!”

Era um hino simples, mas carregado de verdade. Alguns começaram a cantar junto.

Ário tentou retomar sua lira, mas percebeu algo. Sua melodia não mais seduzia. O povo, agora, cantava as palavras de Atanásio.

O encanto fora quebrado.

O Fim do Concerto Herege

Ário desceu do palco. Seu sorriso havia sumido. Ele percebeu que sua música não poderia resistir ao peso da verdade bem fundamentada.

Atanásio, por sua vez, ficou entre o povo. Ele sabia que aquela era apenas uma batalha. A guerra contra a heresia estava longe de acabar, mas, naquela noite, a verdade havia prevalecido.

A praça de Alexandria ecoou com a canção da verdade. E no silêncio das ruas, as palavras de Atanásio permaneceram vivas nos corações:

“Cristo não é criado. Ele é Deus. Eternamente e para sempre.”


Epílogo

Nos anos seguintes, Ário continuaria a espalhar suas doutrinas, e Atanásio se tornaria um dos maiores defensores da fé ortodoxa. No Concílio de Niceia (325 d.C.), suas palavras ajudariam a formular o Credo Niceno, que declararia para todas as gerações que Cristo é “Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”.

A verdade foi cantada e permanece sendo entoada pelos séculos.

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