A Igreja dos Meninos, alimentada espiritualmente por adolescentes e mentorada por Oportunistas
Sim, vivemos um tempo em que o termômetro da maturidade espiritual da igreja evangélica brasileira revela algo alarmante: estamos sendo seduzidos mais por espetáculos de retórica infantilizada do que pela sólida exposição da Palavra de Deus. A ascensão dos pregadores e profetas mirins, como Vitória Souza e Miguel Oliveira, não é apenas um fenômeno curioso — é um sintoma de uma profunda infantilização espiritual e comercialização do evangelho.
O Fenômeno dos Pregadores Mirins: Um Show à Parte da Bíblia
Crianças e adolescentes, ainda em formação emocional, espiritual e cognitiva, estão sendo exaltadas como “porta-vozes do céu”. São levadas a púlpitos inflados de expectativas irreais, transformadas em “prodígios” da oratória. O que deveria ser um tempo de discipulado, crescimento e reverência, torna-se palco para aplausos, viralizações e… transações financeiras.
- Vitória Souza, com seu “estilo influencer”, já se envolveu em polêmicas ao misturar pregação com eventos seculares. Seu discurso frequentemente é raso, misturando autoajuda, frases de efeito e espiritualidade de Instagram.
- Miguel Oliveira, o “profeta mirim”, famoso por “traduzir” línguas estranhas com um falso inglês (algo flagrantemente artificial), virou meme nas redes sociais. Seus cultos têm elementos místicos e práticas não embasadas na sã doutrina bíblica.
É triste reconhecer: esses “mini-ministérios” muitas vezes não são movidos por vocação genuína, mas pelo lucro, pela busca de influência e pela exibição pública de algo que, no fundo, ainda é imaturo.
Pastores ou Mercadores da Fé? Quem Patrocina, Financia e Por Quê
A pergunta que urge ser feita é: que tipo de liderança pastoral promove, agenda e financia esses eventos?
Em muitos casos, a motivação é simples:
- Atrair público: Uma “estrela mirim” traz multidões curiosas. A lógica mercadológica fala mais alto do que a responsabilidade espiritual.
- Ganhar popularidade: Pastores querem ser vistos como “apoiadores do novo mover” — ainda que o mover seja estranho às Escrituras.
- Receber dividendos: Igrejas lotadas, ofertas gordas, eventos pagos — o show, afinal, tem custos que devem ser compensados.
Esses pastores, longe de proteger o rebanho, expõem suas ovelhas ao risco do engano e da infantilização espiritual. Muitos esquecem que Deus chamou líderes para apacentar, e não para entreter. A igreja vira palco; o culto vira show; e o púlpito, um picadeiro.
E o pior: há dinheiro envolvido. Dinheiro entregue publicamente às crianças após suas apresentações. Ofertas que incentivam não a fé, mas o estrelismo precoce. Tudo sob o disfarce de “honrar o profeta”.

O Escândalo das Línguas Montadas e dos Sinais Falsificados
Os casos recentes são gritantes:
- “Línguas estranhas” inventadas à base de palavras em inglês mal pronunciadas.
- “Profecias” genéricas, que servem para qualquer ocasião (“Deus vai te levantar”, “Vejo portas se abrindo”, “O diabo está furioso”).
- “Traduções” místicas onde a emoção do público substitui a análise bíblica.
Isso não apenas gera escândalo dentro do corpo de Cristo, mas também expõe o Evangelho ao ridículo diante do mundo. Como o apóstolo Paulo advertiu:
“O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” (Romanos 2:24).
Em vez de vermos a manifestação da verdadeira glória de Deus, assistimos a performances que, longe de edificar, mancham a reputação da igreja.
Uma Igreja Infantilizada e Carente de Discernimento
O que revela o culto aos pregadores mirins? A triste verdade: a igreja brasileira, em grande parte, perdeu seu senso de discernimento.
- Troca-se maturidade bíblica por fofura no púlpito.
- Troca-se crescimento espiritual por entretenimento gospel.
- Troca-se o ensino profundo pela emoção instantânea.
É como se tivéssemos esquecido que Deus nos chamou a crescer “à medida da estatura completa de Cristo” (Efésios 4:13), e não à estatura emocional de crianças mimadas.
Uma igreja madura:
- Valoriza pregação séria.
- Disciplina e instrui seus jovens com paciência, e não os expõe como astros.
- Discerne entre dons autênticos e espetáculos humanos.
O Impacto Real: A Crítica e a Vergonha Pública
Não é apenas dentro das igrejas que esses abusos estão sendo criticados. O mundo também observa e zomba:
- Reportagens de grandes veículos de comunicação ridicularizam a igreja evangélica associando-a a “crianças que inventam línguas e enriquecem pregando”.
- Youtubers e influencers seculares desmascaram os enganos de alguns “profetas mirins” e expõem a hipocrisia evangélica de forma pública e viral.
A consequência? A imagem da Igreja — que deveria ser “coluna e baluarte da verdade” (1 Timóteo 3:15) — é associada ao charlatanismo infantil.
O escândalo não é só deles: é nosso também, como corpo de Cristo que, em muitos casos, se calou ou aplaudiu em vez de corrigir.

Chamado Urgente à Igreja Brasileira
A hora é agora. Precisamos urgentemente:
- Retomar o discipulado sério: Crianças e adolescentes precisam ser ensinados, não usados como ferramentas de marketing.
- Valorizar a Palavra sobre os palcos: Púlpito é lugar de pregação bíblica, não de show.
- Repreender com amor e firmeza: Pastores e líderes que promovem esses espetáculos precisam ser confrontados biblicamente.
- Exigir responsabilidade pastoral: Quem promove o escândalo tem de ser cobrado espiritualmente pela comunidade.
Em vez de nos encantarmos com “pequenos grandes oradores”, precisamos orar por uma geração cheia da Palavra, do Espírito, da Verdade e da Cruz.
Chamados à Estatura de Cristo, Não à do Espetáculo
A maturidade da igreja não se mede pela capacidade de crianças emocionarem plateias. Mede-se pela capacidade de a igreja ensinar a verdade em amor (Efésios 4:15), formar discípulos genuínos e gerar frutos duradouros.
Enquanto a infantilização e a espetacularização continuarem sendo celebradas, não estaremos crescendo, mas retrocedendo.
Que voltemos ao modelo bíblico de ministério:
“Apascenta as minhas ovelhas” (João 21:17).
E não: “Monetiza as minhas visualizações”.
A Igreja brasileira precisa urgentemente deixar de ser plateia e voltar a ser povo santo.

Conclusão
Uma igreja que se satisfaz com shows de pré-adolescentes no púlpito revela não apenas uma infantilização espiritual, mas também uma crise profunda de discernimento. A liderança, em vez de formar discípulos maduros, exibe crianças como troféus da fé, enquanto a congregação, sedenta por novidades, aplaude performances emotivas, mas vazias de substância bíblica. O que deveria ser um ambiente de formação espiritual tornou-se um palco onde a juventude imatura é exposta à pressão, ao estrelismo e aos riscos espirituais de uma glória prematura.
Esse cenário, porém, não surge por acaso: é alimentado por pastores oportunistas, que exploram o encanto da infância para atrair multidões, gerar lucro e ganhar notoriedade pessoal. Sob a capa de “incentivar novos talentos”, promovem pregadores mirins que muitas vezes repetem frases decoradas e praticam atos performáticos em nome do Espírito Santo, distorcendo a simplicidade do evangelho. No fim, todos perdem: a igreja se torna rasa, os jovens são usados e abandonados, e o nome de Cristo é exposto ao escárnio. Esse “trio que bomba” é, na verdade, o prenúncio de uma igreja fraca, vulnerável e distante da estatura de Cristo.