A Natura acaba de dar mais um passo ousado rumo à economia regenerativa. Não estamos falando de uma nova linha de produtos, mas de uma movimentação de capital. O fundo de Corporate Venture Capital da marca, o Natura Ventures, acaba de incorporar oficialmente a startup norte-americana Mango Materials ao seu portfólio.
Até aí, parece só mais uma aposta em inovação sustentável.
Mas a história que se desenrola por trás desse investimento tem implicações maiores do que parece: é sobre como empresas visionárias estão transformando o que era lixo em valor de mercado.
A Mango Materials desenvolveu uma tecnologia de ponta que captura biometano, um gás 20 vezes mais nocivo ao clima do que o CO₂, gerado na decomposição de resíduos em estações de tratamento de água, e o converte em biopolímeros renováveis e biodegradáveis chamados PHAs (Poli-hidroxiácidos).
A proposta? Substituir o plástico tradicional, derivado do petróleo, por um material que não apenas desaparece na natureza, mas nasce de um problema ambiental.
Uma aposta que vem de longe
A relação entre Natura e Mango não é nova. A parceria começou em 2018, ainda sob o radar, quando a equipe de P&D da Natura identificou o potencial disruptivo da startup. Em 2020, veio o primeiro aporte e, em 2021, o lançamento da linha Biome, cosméticos sólidos, 100% naturais e livres de plástico, que já usavam o PHA em seus acessórios. Agora, com a transferência formal da Mango para o portfólio do fundo Natura Ventures, o movimento deixa de ser apenas inovação de produto e passa a ser estratégia corporativa.
ESG com retorno: ciência, impacto e escala
“Investir em modelos de negócio que aliam viabilidade financeira e impacto profundo”, é assim que Cecília Ribeiro, diretora de Novos Negócios e Inovação Aberta da Natura, define a tese por trás da escolha. E essa lógica faz sentido: a Mango combina ciência aplicada, potencial de escala industrial e impacto socioambiental positivo – uma equação difícil de encontrar, e ainda mais rara de executar bem.
Com essa incorporação, a Mango agora passa a fazer parte da vertical estratégica de Regeneração e Circularidade do Natura Ventures, que busca soluções capazes de reimaginar cadeias produtivas, estender ciclos de vida e gerar valor real para o planeta, para as comunidades e, claro, para os negócios.
Reverter o dano, não apenas mitigá-lo
“Acreditamos que os materiais do futuro devem não apenas minimizar impactos, mas reverter danos”, diz Molly Morse, CEO e cofundadora da Mango. E ela fala sério.
O PHA produzido pela startup é um polímero de alto desempenho que pode ser usado em embalagens, fibras têxteis e diversas outras aplicações industriais. O diferencial está no processo: ele nasce do metano, resíduo altamente danoso ao meio ambiente, e se converte em um material biodegradável e funcional.
Essa é a visão que também inspira a Natura. Como resume Rômulo Zamberlan, diretor de Pesquisa Avançada da empresa: “Queremos gerar impacto positivo. E para isso, precisamos estar conectados com as melhores ideias e soluções”.
É mais que ESG: é uma nova arquitetura industrial para um novo capitalismo.
Corporate Venture Capital com propósito (e estratégia)
O Natura Ventures, fundo gerido pela VOX Capital, tem como foco startups em estágio inicial com alto potencial de impacto. Além da Mango, o fundo já conta com a logtech Abbiamo em seu portfólio. Suas quatro frentes estratégicas são:
- Circularidade e Regeneração;
- Ciclos Prósperos para Consultoras de Beleza;
- Conexão e Experiência do Cliente;
- Tecnologias Habilitadoras para Transformação.
A expectativa é investir em até 15 startups com potencial de acelerar o futuro que a Natura enxerga (e deseja construir). No caso da Mango, à medida que a produção de PHA ganhar escala, a meta é clara: reduzir custos e viabilizar a substituição massiva do plástico tradicional nas embalagens da marca.
Por que isso importa?
Porque o ESG real precisa sair do PowerPoint e entrar na estratégia. Porque o lixo da sua cadeia pode ser o ativo do futuro. E porque as empresas que entenderem isso antes vão liderar a transição em todas as áreas: econômica, ambiental e cultural, que já começou.
Empresas como a Natura estão ensinando como fazer a conversão daquilo que antes seria descarte em valor. O seu negócio está preparado para isso?