Só quem tem gato em casa sabe que esse é um bichinho especial. Contrariando os mitos que foram espalhados por aí, os felinos gostam de seus tutores, sentem sua falta e oferecem sensação de bem-estar.
Mas a trajetória dos gatos ao lado dos humanos é longa e repleta de mudanças. Apesar da presença desses animais ao nosso redor, especialistas em comportamento felino ainda debatem se os gatos podem ser considerados completamente “domesticados”.
O especialista em comportamento felino, Jackson Galaxy, destaca, em seu livro “O Encantador de Gatos”, que, embora vivam entre nós há milhares de anos, os gatos permanecem próximos de sua essência selvagem. “Para mim, cada momento em que você identifica o ‘Gato Essencial’ dentro do seu bichinho é uma prova contra a ideia de completa domesticação”, afirma Galaxy.
Esse “Gato Essencial” mencionado pelo especialista remete à natureza autossuficiente dos felinos, que, ao contrário de outros animais de estimação, nunca dependeram totalmente dos humanos. Galaxy informa, na obra, que a ancestralidade do gato doméstico está ligada ao Felis silvestris lybica, uma das espécies selvagens mais dóceis e que estava predisposta a viver próxima de humanos. “Essa relação de proximidade teve início com a ascensão da agricultura, quando os assentamentos humanos passaram a atrair uma grande quantidade de roedores. Para os gatos, a proximidade com humanos se tornou vantajosa por fornecer alimento, enquanto os humanos se beneficiavam da habilidade natural dos felinos de controlar pragas”, narra Galaxy.
Na obra, o autor também mostra que, no Egito Antigo, o papel dos gatos se elevou a um status quase divino. Representados na arte, venerados nos templos e, muitas vezes, mumificados ao lado de ratos, os gatos eram amados e protegidos. “O amor e a devoção dos egípcios pelos gatos eram algo extraordinário. Maltratar um gato poderia resultar em punições severas e até o luto pela morte de um gato era observado com respeito”, informa.
Contudo, o Egito não era a única cultura que valorizava esses animais. “No Islã, por exemplo, o profeta Maomé era conhecido por seu apreço por gatos. Segundo relatos, ele preferiu cortar a manga de seu manto para não incomodar seu gato Muezza, que dormia em seu colo”, Galaxy indica em seu livro.
Entretanto, nem todas as sociedades viam os gatos com os mesmos olhos. Segundo o especialista, durante a Idade Média, as perseguições a não cristãos e o surgimento de superstições associaram os felinos a práticas de bruxaria. Esse estigma levou à matança em massa de gatos em julgamentos de bruxaria, que resultou em uma ironia trágica: com menos gatos para controlar a população de roedores, a peste negra se espalhou ainda mais rapidamente. “A relação entre humanos e gatos sofreu um golpe brutal nessa época. O medo e a superstição deixaram uma marca negativa que persiste até hoje”, observa.
Apesar dos desafios históricos, os gatos conseguiram superar estigmas e conquistaram um lugar especial na sociedade moderna. Ainda assim, Galaxy ressalta que superstições ainda afetam esses animais. “Muitos ainda veem os gatos com desconfiança, especialmente os de pelagem preta”, comenta. Para ele, é essencial que as pessoas entendam a importância dos felinos e a contribuição histórica que esses animais trouxeram ao longo dos séculos.
Com uma trajetória marcada pela utilidade, veneração e estigmatização, os gatos provam ser muito mais do que simples animais de estimação. “Eles são companheiros únicos que carregam uma essência selvagem”, completa Galaxy.
FAQ
Por que alguns especialistas acreditam que os gatos não são completamente domesticados?
Gatos mantêm traços de sua essência selvagem e autossuficiência, nunca tendo dependido totalmente dos humanos, segundo especialistas como Jackson Galaxy.
Como os gatos passaram a conviver com os humanos?
A convivência iniciou-se na época da agricultura, quando os gatos se aproximaram dos assentamentos humanos para caçar roedores, beneficiando ambos os lados.
Quais são alguns exemplos de culturas que valorizaram os gatos ao longo da história?
No Egito Antigo, os gatos eram venerados e protegidos, e no Islã, o profeta Maomé mostrou grande apreço por eles.
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