por Thiago Rocco
Vagas por toda parte, profissionais qualificados pra kct jogando currículo como quem joga garrafa ao mar e as empresas alegando que “não encontram ninguém”. Um monte de gente por aí com duas graduações, Pós, 20 certificações e um burnout não tratado misturado com ansiedade e sentimento de incapacidade.
Isso é o que acontece quando o sistema premia a superficialidade, ignora a reflexão e transforma o mercado de trabalho num concurso de carisma sem conteúdo. A cada virada de era, o mundo inventa uma crise pra justificar a transição do tipo de revolução que estamos entrando. Na Revolução Industrial, o operário substituiu o artesão.
Na era da informação, o técnico virou rei. Agora, na economia da dopamina e do Reels, o pensador virou ruído, uma pedra no sapato.
A reflexão atrasa o feed, profundidade não ranqueia no algoritmo. Só que diferente das revoluções anteriores, onde a transição vinha junto com um novo setor, agora o motor é invisível. É feito de dados, interfaces, e principalmente… consumo acelerado.
E pra piorar, o mundo pós-pandemia descobriu que vender é fácil. Basta um vídeo de 30 segundos, um gancho dramático sobre pet, bebê, a falsa necessidade de algo e um botão de compra. A massa não quer mais pensar, quer estímulo, quer alívio. Quer qualquer coisa que preencha os 15 segundos antes do próximo vídeo pq 1 min já é demais.
Pós-pandemia, o mundo mudou. Mas não só na superfície. Mudou na lógica mais íntima: a de como as pessoas desejam, escolhem e compram. Consumir virou impulso, não decisão. Criar produto virou template. E vender ficou tão fácil que qualquer um consegue, desde que saiba ativar a dopamina do outro em menos de 5 segundos.
O que temos hoje é uma população que foi idiotizada pela lógica do engajamento. Basta olhar a principal rede profissional do mundo: LinkedIn. Já não é mais sobre conhecimento, profundidade, pensamento crítico. É sobre se fazer notado, parecer ocupado, entregar frases de impacto com zero substância. E o sistema aprendeu que não precisa mais de milhões pensando. Precisa de poucos operando as ferramentas e de bilhões entretidos e comprando.
Então criamos esse teatro de vagas que não contratam, processos que nunca acabam, exigências que ninguém cumpre, profissionais se sentindo inadequados quando, na verdade, são lúcidos demais pra essa realidade. O profissional técnico virou ruído. Difícil de enquadrar, exigente demais, caro… então o mercado disfarça sua exclusão como “falta de soft skill” ou “salário fora da faixa”.
Você ficou complexo demais pra um sistema que agora só recompensa o simples e o obediente. A idiocracia não é um acidente, é um novo modelo de produção, baseada na glorificação da ignorância performática. Pensar demais virou um problema de performance, quem questiona é visto como desengajado.
A resposta não está em aprender mais uma ferramenta. Está em aprender a coisa certa. Não em baixar sua pretensão. Está em mostrar que entendeu o jogo.
fonte: LinkedIn