As quedas sucessivas da bolsa brasileira são decorrentes do impacto do risco global desencadeado pelo noticiário envolvendo o banco europeu Credit Suisse. O principal acionista do banco suíço descartou a possibilidade de novos aportes na instituição, o que logo derrubou as ações do banco e levou junto outros grandes nomes do setor.
No Brasil, a apresentação do novo arcabouço fiscal do governo deve acontecer ainda hoje. O investidor local aguarda com ansiedade os detalhes da regra que substituirá o teto de gastos. Os destaques da semana são os bancos e os frigoríficos, que acumularam alta com novos casos da gripe suína na China
No panorama da semana, a bolsa brasileira acompanhou o clima no exterior, em um dia de recuperação após as recentes baixas causadas pelos temores envolvendo o sistema financeiro mundial.
*Importante: ainda hoje (17) a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) abriu inquérito administrativo para investigar possíveis práticas anticoncorrenciais pela B3. A autarquia responsável pela defesa da concorrência apura se a bolsa tem utilizado de seu monopólio no mercado de negociação de ativos para excluir concorrentes do mercado de registros. O inquérito deve impactar negativamente o Ibovespa na próxima semana, afastando ainda mais o investidor que teme a crise global se aproximando.
Estados Unidos
Nos EUA, a semana foi marcada pela crise no sistema bancário tradicional nos negócios e o alívio do dia conseguiu reverter parte das perdas. Em comparação com a última semana, a agenda foi relativamente mais tranquila lá fora e abre espaço para os investidores criarem boas expectativas com a ajuda ao setor financeiro.
As medidas para estabilizar o Credit Suisse parecem estar fazendo efeito, uma vez que as Bolsas da Europa e Estados Unidos estão se recuperando após sequência de perdas. Há o sinal de resgates dos bancos, o que possibilita que tenhamos um humor um pouco mais propício à propensão ao risco, que o Brasil captura.
Vale finalizar dizendo que, na minha avaliação, mesmo com cenário aparente de recuperação, as preocupações com uma possível crise bancária estão longe de terminar.
Dólar x Real
O dólar fechou em alta cautelosa, em vista ao risco externo. O que fez do real uma das moedas que mais se desvalorizam frente à moeda americana.
Mesmo com o alívio no pessimismo no exterior, com o socorro aos bancos, as divisas emergentes perderam nos últimos, mas o real até ficou bem ancorado.
Os investidores estão atentos aos dados dos Estados Unidos, aguardando sinais da decisão de política monetária do Fed e também monitorando o noticiário sobre o setor bancário global, além do avanço do novo arcabouço fiscal no Brasil.
A depender das medidas anunciadas no novo arcabouço fiscal, o real deve se recuperar, muitos investidores aguardam quais serão os próximos passos da gestão do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e esperam o anúncio com certo otimismo, frente ao que já se sabe.
Novo arcabouço fiscal
No Brasil, sempre houveram regras fiscais, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas, até então, elas tinham uma visão mais de curto prazo, olhavam para o ano vigente e para o ano seguinte. O teto de gastos tentou dar uma maior previsibilidade para a política fiscal, estabelecendo uma duração de 20 anos e a possibilidade de ser revisado no meio desse caminho. A medida foi desenhada de uma forma que deixaria claro o conflito distributivo em algum momento do tempo. Há despesas que possuem uma velocidade de crescimento maior do que a expansão do teto. Ou seja, ao comprimir alguns gastos, você exige uma discussão sobre as prioridades. As escolhas de gastar mais em uma área do que outra são costumes do jogo político e refletem as preferências do grupo político e da sociedade.
Precisamos ter alguma previsibilidade em relação à política fiscal porque ela afeta a política monetária, o juro pago pelo Brasil nos títulos públicos, a incerteza do setor privado em relação à solvência do governo, o que impacta nos investimentos
O arcabouço fiscal é o coração do equilíbrio macroeconômico de qualquer país. Como a política fiscal é determinante para o nível de inflação e de juros, isso necessariamente acaba afetando a taxa de emprego, a renda e o crescimento da economia.
A nova regra precisa estar no meio do caminho, com uma válvula que incorpore os ciclos econômicos. Deve haver gatilhos, por exemplo, que permitam gastar em tempos de recessão. Já no período de crescimento, devemos adotar a velha poupança, para nos proteger dos tempos mais difíceis.
Mas, principalmente, é importante que o novo arcabouço fiscal compreenda a dinâmica da tramitação do Congresso e, de forma antecipada, seja rígido. Mudanças e desidratações nesse processo vão levar as regras para o desejo original do governo. Para negociar, é preciso ter alguma gordura.
Na minha avaliação, o governo tem ciência da importância desse tema, assim como ele tem da reforma tributária, e trabalhará para que o texto seja aprovado. Isso pode ser o Plano Real do Lula, se for bem desenhado, ele será bem recebido pelo mercado.
fontes: Motim e Luiz Felipe, CEO do transferbank