Imagine um lago. É noite. A lua cheia brilha redonda no céu.
Quando as águas deste lago estão calmas, refletem a luz da lua com precisão, podemos ver no céu e nas águas uma lua perfeita, redondinha. A realidade e o seu reflexo são muito parecidos.
Agora, caso as águas deste lago estejam agitadas, o reflexo da lua será deformado e disforme, não condizente com a realidade que enxergamos no céu.
Entenda que a lua representa a realidade. O lago representa a sua mente. Quando nossas emoções estão em ebulição, não conseguimos enxergar a realidade com nitidez.
- Nossos pensamentos se interpõem entre nós e os fatos e corremos grande distorcemos a realidade.
Meu caro leitor, esta não é uma boa hora para falar.
A tão cobiçada comunicação assertiva está diretamente relacionada com a sua inteligência emocional. Saber reconhecer e gerir suas emoções é a base do sucesso na sua comunicação.
Seis etapas nos aproximam de uma comunicação realmente assertiva e capaz de solucionar conflitos. Vamos entender o que devemos considerar em cada uma dessas etapas e como as emoções podem prejudicar nosso discernimento em cada uma.
Por que dizer?
Este é o objetivo da sua mensagem. Saber por que falar é o primeiro passo para construir uma mensagem assertiva. Muitas vezes, começamos uma conversa sem saber sequer aonde queremos chegar ou qual é o nosso objetivo ao falar. Possivelmente, isso resultará em uma conversa que apenas descarrega no outro nossas emoções e frustrações. Quando estamos tomados pela emoção, é muito mais provável que queiramos ‘rebater ou nos defender’, ao invés de solucionar. Saiba, exatamente, seu objetivo.
Para quem dizer?
Parece óbvio, mas nem sempre consideramos para quem vamos levar nossa mensagem. Esse é um recorte muito precioso para delimitarmos o que vamos dizer. O ‘quem’ estará imbricado no passo anterior, o ‘porquê’. Quanto aquela pessoa sabe ou viveu acerca do tema da mensagem? Quais as objeções que ela pode ter sobre o tema? Quais vieses e valores? Qual o interesse nesta conversa? Essas são perguntas muito importantes sobre o nosso interlocutor.
Mas veja bem, quando estamos em ebulição, provavelmente não teremos condições de observar e responder a estas perguntas com isenção, pois estaremos analisando o outro através das nossas lentes ofuscadas pelas emoções. Considere quem está do outro lado.
O que dizer?
As etapas anteriores serão a base desta terceira etapa. Se temos clareza do porquê e para quem estamos construindo a mensagem, podemos escolher com assertividade o que dizer, considerando o que deve ou não entrar na nossa mensagem. Ou seja, as etapas anteriores nos orientam sobre a curadoria do nosso conteúdo.
Se pecarmos nas etapas anteriores, corremos um grande risco de escolhermos mal nossos argumentos, misturando os fatos com as nossas emoções, distorcendo o acontecido e nos distanciando de uma possível solução. Não podemos permitir que nossas emoções ditem o que será dito, isso nos colocaria em um lugar demasiadamente apaixonado e pouco estratégico e assertivo. Diga, exatamente, o que você quer dizer.
Como dizer?
O ‘como’ diz respeito à forma. Como nos expressamos, como a voz e a linguagem não verbal contribuem e sustentam a nossa mensagem. Ou como elas distorcem a mensagem. Albert Mehrabian conduziu um estudo que demonstra que, quando existem ruídos emocionais na nossa comunicação, a voz e a linguagem não verbal são responsáveis por mais de 90% da interpretação da mensagem.
Imagino que aqui já esteja evidente para você que, se não fizermos uma boa gestão das nossas emoções, elas falarão mais alto do que qualquer coisa que você diga, transbordando pelo ritmo, pelo tom e pela frequência da nossa voz, pelas expressões faciais e postura corporal. O ‘como’ é responsável pelos maiores e mais graves ruídos de comunicação. Busque uma performance que transmita calma e confiança.
Onde dizer?
Não costumamos considerar essa etapa na hora de construir uma comunicação assertiva, mas a escolha do lugar é fundamental para a atmosfera que queremos dar para a conversa. Uma conversa ‘na sala do chefe’ provavelmente vai adicionar mais tensão e seriedade à conversa do que uma conversa em uma cafeteria ou ao ar livre. A escolha de, por exemplo, ter uma conversa difícil caminhando ao ar livre ao invés da ‘sala do RH’ (onde as pessoas são contratadas e demitidas) pode influenciar muito no estado emocional, tanto no seu quanto no do seu interlocutor. Seja estratégico nesta escolha!
Quando dizer?
Por fim, escolher a hora certa de dizer. E a pergunta que traduz esta etapa é ‘essa é a hora de termos essa conversa?’. Aqui devemos considerar a objetividade do tempo, se existe tempo hábil para que a conversa aconteça, mas, também, se é a hora certa de ter a conversa no sentido das nossas emoções. Estamos, eu e o outro, em condições de ter essa conversa?