A influência de Elon Musk no Governo dos EUA não é bem uma novidade. Desde Obama, Elon Musk já estabelecia relações muito próximas com temas de governo, especialmente na área de energia renovável e exploração espacial.
Só que, apesar de próximas, Musk era considerado um conselheiro informal.
Agora, com Trump, esse status mudou significativamente. O anúncio de Musk para o Departamento de Eficiência Governamental pegou até mesmo aliados de surpresa.
Considerado o cidadão privado mais poderoso dos EUA, antes de ser anunciado com o novo cargo, Musk já participava de quase todas as reuniões com a equipe de transição e entrevistas para nomeações.
O efeito Musk é tão poderoso entre os Republicanos que, em um jantar recente de apoiadores, sua chegada ao local rendeu aplausos comparáveis aos de Trump, reforçando seu status quase “mitológico” no círculo íntimo do presidente eleito.
Musk já participou de reuniões de segurança nacional e esteve em chamadas com líderes internacionais, como Erdogan (Turquia) e Zelensky (Ucrânia). Ele também deve se encontrar pessoalmente com Javier Milei, presidente eleito da Argentina.
Enquanto isso, Musk promove sua visão de uma revolução governamental liderada por “dedicados maníacos por governo enxuto”.
O jornal NY Times, na edição desta quarta-feira, 13 de novembro, define a união Trump-Musk como “um símbolo da nova era nos EUA”
E essa é a mensagem que Trump endossa ao nomeá-lo.
Afinal, o que é esse Departamento da Eficiência Governamental?
O Department of Government Efficiency (DOGE) é uma assinatura de Trump no novo governo. Ele faz parte de uma estratégia para reestruturar a administração pública dos Estados Unidos. Embora seja um órgão recém-criado e ainda em fase de definição, é nas mãos de Musk que estarão temas de alto impacto econômico, como:
- A redução de gastos públicos: ele quem terá a caneta para cortar despesas do governo, buscando eficiência e economia.
- A desburocratização: Musk terá a missão de simplificar processos administrativos e eliminar redundâncias em agências governamentais.
- Melhoria operacional: trazer para a gestão pública práticas empresariais modernas, como as que ele está acostumado a usar em seus negócios.
E por que Elon Musk?
Antes de qualquer mérito empresarial ou de gestão, está o alinhamento político e ideológico. Musk e Trump compartilham as mesmas pautas, e têm origens semelhantes, na iniciativa privada.
À parte da questão política, é inegável que Elon Musk sabe construir negócios vencedores. Ele está no comando de negócios como Tesla, Neuralink, SpaceX, X (ex-Twitter), entre outros em que figura como investidor e foi um dos fundadores do PayPal, empresa que vendeu ao eBay, em 2002, por 1,5 bilhão de dólares.
O Vale do Silício em cargos de governo
Musk não quer assumir a pasta da Eficiência “sozinho”. Ele já recomendou a Trump executivos de sua empresa, SpaceX, para cargos administrativos e busca formar um “Dream Team” do Vale do Silício para ajudar no governo.
Guerra de egos?
Ainda que as duas figuras, presidente eleito dos EUA e o empresário mais influente do mundo, pareçam não caber na mesma sala, não é essa a mensagem que eles estão transmitindo ao mundo, até então.
No passado eles chegaram a discordar e se afastar. Durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), o dono da SpaceX resolveu sair do grupo de 16 bilionários e CEOs de grandes empresas que formavam o Fórum Estratégico e Político do Presidente.
Na época, o que gerou o afastamento foi a decisão de Trump de tirar os EUA do Acordo de Paris, tratado de combate às mudanças climáticas. Musk disse, à época, que tinha feito “tudo o que pôde” para convencer o então presidente do contrário. O que não deu certo.
Agora, tudo parece estar pacificado. Trump tem adotado Musk como parte de sua família. Não à toa, Musk está presente em fotos familiares em momentos de celebração.
Essa proximidade reflete a admiração mútua, especialmente pelo foco de Musk em eficiência e corte de custos, valores que Trump espera levar ao governo com a criação de um novo departamento focado na redução de gastos.
CEO vs Gestor Público: e agora?
Musk tem contratos vigentes com a Nasa e com o Pentágono. Ao mesmo tempo, ele lidará com questões que podem envolver suas próprias empresas, como subsídios para veículos elétricos ou contratos espaciais.
A definição dos próximos passos entre CEO e Gestor Público poderá acabar nas mãos da Justiça dos Estados Unidos, que pode impedir que o presidente eleito nomeie Musk para compor sua administração, ou exigir que o multibilionário se afaste do comando de suas empresas.
O que se espera de Musk
Com Musk no governo, os próximos anos prometem ser uma mistura de inovação e desafios na busca por um governo mais ágil e alinhado aos avanços tecnológicos. Ele precisará lidar com questões estruturais da economia norte-americana como:
- Contas públicas desgovernadas: o governo dos EUA enfrenta déficits fiscais crescentes, exigindo cortes orçamentários ou aumentos de receita, ambos politicamente sensíveis.
- Inflação: embora moderada atualmente (2,4% nos últimos 12 meses), a inflação pode se intensificar, exigindo políticas delicadas para controlá-la sem prejudicar o crescimento econômico.
- Desafios setoriais: Musk precisará lidar com ineficiências no governo, incluindo desperdício de recursos e processos desatualizados, enquanto enfrenta resistência de servidores públicos e sindicatos.
O que não se espera de Musk
Um fator que pode ser contra Elon Musk é sua alta capacidade de gerar polêmica. Esse foi o ingrediente que afastou os anunciantes do Twitter, causando prejuízos à companhia.
Só que polêmicas são melhor absorvidas na iniciativa privada, ou, na pior das hipóteses, prejudicam um número muito menor de pessoas.
No “novo emprego” Musk precisará incorporar uma versão mais controlada de si mesmo. O empresário é tido como exigente e impaciente, por pessoas que convivem com ele, o que pode não encaixar ao ritmo de um governo.
Será que consegue? São cenas dos próximos capítulos.