O Último Dia Normal
A cidade de Nova Esperança não era nada extraordinária. Com seus prédios de arquitetura simples, ruas movimentadas e um ritmo de vida previsível, era como qualquer outra cidade moderna. Seus habitantes seguiam suas rotinas como se o mundo fosse continuar exatamente o mesmo para sempre. Trabalhar, estudar, pagar contas, discutir política e assistir às notícias eram os pilares que sustentavam o dia a dia. Mas nenhum deles sabia que estavam à beira do maior colapso da história da humanidade.
Era uma manhã de sexta-feira, quente e abafada. O tráfego intenso se arrastava como de costume na Avenida Central, onde buzinas soavam impacientes e transeuntes se apressavam para seus destinos. Nas esquinas, vendedores ambulantes ofereciam café e salgados a clientes apressados. Telões digitais anunciavam as últimas manchetes:
- “Crise financeira mundial agrava tensão entre potências.”
- “Pesquisadores alertam para novo vírus com taxa de mortalidade elevada.”
- “Líderes mundiais discutem solução para conflitos armados emergentes.”
Os avisos pareciam alarmantes, mas para a maioria, eram apenas manchetes sensacionalistas. Todos tinham algo mais urgente para se preocupar – exceto aqueles que começavam a notar um padrão no caos crescente.
Eram 7h45 quando Elias Vasconcelos, um homem de 52 anos, parou na porta de sua livraria cristã, olhou para o céu e suspirou. Algo não estava certo (este é o mesmo Elias que pregou na igreja no primeiro capítulo da série). Não era um pressentimento, nem um medo irracional. Era um incômodo, um peso invisível sobre os ombros. Como se a qualquer momento, algo grande fosse acontecer.
Elias sempre fora um estudioso das Escrituras. Pastor aposentado, havia dedicado anos à defesa do ensino de que a igreja seria arrebatada antes da Tribulação. Mas nos últimos meses, um desconforto silencioso invadira seu coração. Quanto mais analisava os eventos globais, mais ele questionava se realmente entendera as profecias da forma correta.
Ele se virou e entrou na loja. As prateleiras estavam repletas de Bíblias, livros teológicos e devocionais. No fundo, Lucas Almeida, seu sobrinho e funcionário da livraria, conferia um pedido de novos materiais. Lucas era jovem, na casa dos 25 anos, entusiasmado e apaixonado pela fé.
— Dia cheio, tio? — perguntou Lucas, sem tirar os olhos do tablet.
— Sempre é — Elias respondeu, mas sua voz soou distante.
Lucas ergueu a cabeça e franziu a testa.
— Algum problema?
Elias hesitou antes de responder.
— Eu tenho orado muito, e algo me diz que tempos difíceis estão chegando.
Lucas sorriu.
— Sempre tivemos tempos difíceis. Mas nós não vamos estar aqui para ver o pior, lembra?
Elias assentiu, mas seu olhar não estava convencido.
— Eu só espero que estejamos certos…
Lucas riu, pegando um café sobre o balcão.
— Claro que estamos. Já lemos e estudamos isso a vida inteira!
A campainha da porta tocou. Raquel Barreto, uma jovem de 27 anos, entrou apressada, segurando uma mochila cheia de livros e papéis.
— Desculpa a correria, estou atrasada de novo — disse ela, indo até o balcão.
Raquel era professora e uma das líderes do grupo de estudos bíblicos na igreja. Inteligente e determinada, era conhecida por sua paixão pela apologética.
— O que aconteceu dessa vez? — perguntou Lucas.
— Peguei um trânsito infernal na Avenida Oeste. Parece que houve uma manifestação contra as novas diretrizes do governo.
Elias ergueu os olhos.
— De novo?
— Sim — disse Raquel. — Dessa vez, é sobre aquele novo acordo internacional. Estão falando que a moeda digital global será obrigatória em breve.
Lucas bufou.
— Teoria da conspiração.
— Não sei — disse Elias. — Mas se for verdade, as coisas podem ficar difíceis para nós.
A conversa foi interrompida quando Gabriel Costa, um homem de 33 anos, entrou na livraria. Gabriel era policial e um dos poucos membros da igreja que levava a escatologia a sério. Ele olhou para os três e foi direto ao ponto:
— Vocês viram o que aconteceu ontem à noite?
— O quê? — perguntaram quase em uníssono.
Gabriel jogou um jornal sobre o balcão. A manchete dizia:
“Sede da ONU em Nova York atacada – suspeitas de envolvimento terrorista.”
— E daí? — perguntou Lucas.
— Daí que ninguém sabe quem atacou. Nenhuma facção assumiu a autoria. E algumas testemunhas relataram luzes estranhas no céu antes da explosão.
Raquel cruzou os braços.
— Luzes? Como OVNIs?
Gabriel deu de ombros.
— Não sei, mas algo está errado. E não é só isso. Você sabe aquela crise na Europa? O novo governo unificado finalmente foi aprovado. A partir de agora, todas as decisões econômicas da região serão controladas por um único conselho.
Elias pegou o jornal e analisou as manchetes. Cada vez mais, tudo parecia convergir para um único ponto.
— Está tudo acontecendo muito rápido — disse ele.
Lucas riu, mas sem a mesma segurança de antes.
— Pode ser só o ciclo normal da política global.
— Ou pode ser algo muito maior — retrucou Gabriel.
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Em Outro Lugar da Cidade…
Enquanto isso, do outro lado de Nova Esperança, Miguel Vargas, um renomado jornalista investigativo, tomava seu café em um restaurante movimentado. Miguel não era religioso. Na verdade, ele sempre zombara dos crentes que falavam sobre “fim do mundo”. Para ele, tudo tinha uma explicação racional.
Mas nos últimos meses, algo começou a incomodá-lo. Os eventos mundiais estavam escalando de forma absurda. As guerras, as doenças, as mudanças políticas… e agora, os boatos de que um único homem estava unificando cada vez mais nações.
— Não faz sentido — murmurou, lendo as notícias no celular.
Ele olhou para sua mesa e viu sua colega, Ana Castilho, terminando de digitar um relatório no laptop.
— Ana, você já percebeu como tudo isso parece orquestrado?
Ana, uma cética declarada, levantou os olhos e arqueou a sobrancelha.
— O quê?
— Tudo. A crise financeira, a fome, os conflitos, as mudanças políticas… Parece que estão preparando o mundo para aceitar um novo governo global sem resistência.
Ana sorriu.
— Miguel, isso soa como teoria da conspiração.
— Talvez. Mas e se for verdade?
Ana fechou o laptop e suspirou.
— Desde que o mundo é mundo, sempre existiram crises. Mas ninguém está forçando nada. É apenas o curso natural da história.
Miguel assentiu lentamente, mas algo em seu instinto dizia que não era bem assim.
De Volta à Livraria…
Já passava do meio-dia quando Elias decidiu fechar a loja para o almoço. Mas assim que trancaram a porta, as luzes piscaram.
— O que foi isso? — perguntou Raquel.
Gabriel olhou para o celular.
— Parece que houve um apagão em parte da cidade.
A tensão tomou conta do ambiente.
— Gente… — começou Lucas. — Vocês sentem isso?
Todos ficaram em silêncio. Havia algo no ar. Uma inquietação, um peso invisível. Como se o próprio tempo tivesse desacelerado por um instante.
E então, os celulares vibraram ao mesmo tempo.
“ALERTA URGENTE: Governo convoca pronunciamento global em 24 horas. Todas as redes serão interrompidas temporariamente.”
Os quatro se entreolharam.
— Isso não é normal — disse Elias.
Lucas engoliu em seco.
— Talvez seja apenas um anúncio político.
Mas ninguém parecia convencido.
Raquel sentiu um arrepio subir pela espinha.
— Algo me diz que o mundo nunca mais será o mesmo depois de amanhã.
FIM DO CAPÍTULO 2
O que acontecerá no pronunciamento global? O grupo realmente está vivendo o início do Apocalipse? Ou há algo ainda mais sinistro por trás dos eventos?
EM BREVE: PARTE 3 – O CAVALEIRO BRANCO