Guerra Espiritual: Por Que Hostes Espirituais Da Maldade Atuam Em Regiões Celestiais? (3) – Religião

A Armadura de Deus e a Guerra Espiritual

O texto de Efésios 6:10-17 apresenta um dos temas mais relevantes para o cristão: a guerra espiritual. Paulo exorta os crentes a estarem preparados para enfrentar forças malignas invisíveis, e nos instrui a nos revestirmos de toda a armadura de Deus. Este estudo analisa profundamente cada elemento da armadura, os inimigos descritos por Paulo e o significado das hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais.

Verso 10: “Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.” Paulo inicia com uma ordem positiva. A força necessária para a batalha espiritual não vem de nós mesmos, mas do Senhor. A expressão “força do seu poder” lembra a ressurreição de Cristo, quando Deus demonstrou Seu poder soberano (Efésios 1:19-20).

Verso 11: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus.” O verbo “revesti-vos” (do grego ἐνδύω, endyo) é usado para indicar uma ação deliberada e contínua. A armadura é “de Deus”, ou seja, pertence a Ele, e só pode ser eficaz quando nos submetemos à Sua autoridade.

Verso 12: “Porque não temos que lutar contra carne e sangue…” Aqui Paulo descreve a natureza espiritual da batalha. As expressões “principados”, “potestades”, “príncipes das trevas” e “hostes espirituais da maldade” descrevem diferentes hierarquias de forças malignas.

1. Principados (ἀρχαί, archai): Refere-se a líderes espirituais de alto escalão.
2. Potestades (ἐξουσίαι, exousiai): Denota autoridades espirituais com permissão para operar em áreas específicas.
3. Príncipes das trevas deste século: Indica forças malignas que dominam sistemas e estruturas terrenas.
4. Hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais: Esta expressão exige atenção especial, analisada a seguir.

Por que as hostes espirituais da maldade estão nos lugares celestiais?

Quando a Bíblia fala de “lugares celestiais” em passagens como Efésios 6:12, não está se referindo ao céu onde Deus habita em Sua glória (o que muitas vezes é chamado de “terceiro céu”, como em 2 Coríntios 12:2). Em vez disso, “lugares celestiais” (ἐπουράνια, epourania) refere-se à esfera espiritual, que inclui tanto o reino de Deus quanto os domínios espirituais onde forças malignas operam.

Regiões ou lugares celestiais não são o céu onde Deus está?

1. O Contexto Bíblico de Efésios:
   • Em Efésios 1:3, Paulo afirma que os crentes estão abençoados “com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo“. Em Efésios 2:6, ele diz que estamos “assentados nos lugares celestiais em Cristo“. No entanto, em Efésios 6:12, os “lugares celestiais” aparecem como o campo de atuação das hostes espirituais da maldade. Isso sugere que os “lugares celestiais” não são exclusivamente a morada de Deus, mas uma dimensão espiritual mais ampla onde ocorrem tanto as atividades de Deus quanto os conflitos com forças malignas.
2. A Presença de Hostes Malignas:
   • É inconcebível que o céu, como morada de Deus, abrigue demônios ou qualquer forma de maldade. Deus é santo, e Sua presença é inacessível a seres malignos (Habacuque 1:13; Apocalipse 21:27). Assim, a menção de “hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais” indica que essas forças malignas atuam em um nível espiritual abaixo do céu onde Deus reina, mas acima do plano físico onde vivemos.
3. A Conexão com a Rebelião Espiritual:
   • Satanás, mesmo após sua queda, continua tendo algum acesso a dimensões espirituais. Em Jó 1:6-7, vemos Satanás comparecendo diante de Deus para acusar Jó. Isso indica que ele opera em uma dimensão espiritual, mas não no céu como morada eterna de Deus. Lucas 10:18 fala de Satanás caindo “como um raio” do céu, simbolizando sua expulsão da presença de Deus, mas não necessariamente de todos os “lugares celestiais”.

O Que São os “Lugares Celestiais”?

Os “lugares celestiais” podem ser entendidos como a esfera espiritual invisível que interage tanto com o reino de Deus quanto com o mundo físico. Essa esfera é onde anjos, demônios e outros seres espirituais operam. É também o campo de batalha da guerra espiritual.

Comentário Teológico sobre as Regiões Celestiais

1. John Stott:
   • Stott afirma que os “lugares celestiais” são a “esfera invisível da realidade espiritual”. Ele enfatiza que essa esfera inclui a presença de Cristo e dos anjos, mas também o domínio onde os poderes malignos buscam resistir à obra de Deus.
2. F. F. Bruce:
   • Bruce argumenta que os “lugares celestiais” em Efésios são uma “dimensão espiritual de existência”, abrangendo tanto os redimidos em Cristo quanto os inimigos espirituais de Deus.
3. Wayne Grudem:
   • Grudem observa que, após a queda, Satanás e seus anjos foram expulsos da presença direta de Deus, mas não perderam sua influência nos “lugares celestiais”. Ele associa essa influência com o controle de sistemas e poderes mundanos.
4. David Martyn Lloyd-Jones:
   • Lloyd-Jones interpreta os “lugares celestiais” como a “dimensão invisível onde a batalha entre o bem e o mal é travada”. Ele destaca que, embora Satanás atue nesses lugares, ele está restrito pela autoridade soberana de Cristo.

Por Que Isso Importa para o Cristão?

1. A Batalha É Real, Embora Invisível:
   • A guerra espiritual ocorre nessa esfera invisível. É por isso que Paulo exorta os crentes a se revestirem da armadura de Deus e a orarem continuamente.
2. Nossa Vitória Está Garantida em Cristo:
   • Embora os inimigos espirituais operem nos “lugares celestiais”, Cristo já venceu essas forças na cruz (Colossenses 2:15). Os crentes estão assentados “nos lugares celestiais” com Cristo (Efésios 2:6), indicando nossa posição de vitória.
3. A Necessidade de Vigilância:
   • Apesar da vitória de Cristo, a guerra continua até que Ele venha consumar Seu reino. Devemos estar alertas e equipados, pois nossos inimigos espirituais ainda são perigosos.

A Armadura de Deus: Elementos e Significados

1. Cinturão da Verdade:
   • Simboliza integridade e autenticidade. A verdade, tanto objetiva (a Palavra de Deus) quanto subjetiva (vida honesta), nos mantém firmes contra as mentiras do inimigo.
2. Couraça da Justiça:
   • Refere-se tanto à justiça imputada de Cristo quanto à vida justa que devemos viver. Ela protege o coração, o centro das nossas emoções e decisões.
3. Calçados da Preparação do Evangelho da Paz:
   • Indicam prontidão para compartilhar o evangelho e caminhar em paz com Deus e com os outros. Essa paz vence as distrações e ansiedades da batalha.
4. Escudo da Fé:
   • O escudo apaga os “dardos inflamados do maligno”, que incluem dúvidas, tentações e acusações. A fé em Deus é a proteção contra esses ataques.
5. Capacete da Salvação:
   • Representa a segurança da salvação, protegendo a mente contra dúvidas e desespero. A certeza da salvação nos mantém firmes em meio à batalha.
6. Espada do Espírito:
   • A única arma ofensiva, identificada como a Palavra de Deus. O cristão usa as Escrituras para derrotar as mentiras e os ataques do diabo, como Jesus fez em Mateus 4.

Aplicação Teológica e Espiritual

1. Por que a luta é espiritual?
   • A guerra espiritual é real porque Satanás ainda busca destruir o povo de Deus (1 Pedro 5:8). No entanto, os crentes lutam com armas espirituais, confiando no poder de Deus (2 Coríntios 10:4).
2. A posição do cristão na guerra espiritual:
   • O cristão já está assentado “nos lugares celestiais em Cristo” (Efésios 2:6), mas a batalha ocorre porque ainda vivemos em um mundo caído. A vitória já foi garantida pela cruz (Romanos 8:37-39).
3. Como resistir no “dia mau”?
   • Paulo instrui a tomar “toda a armadura de Deus”. Isso inclui prática diária de oração, leitura da Palavra e vida em santidade. Sem esses elementos, o crente não pode resistir às “ciladas do diabo”.

Efésios 6:10-17 não é apenas um chamado à ação, mas uma revelação profunda de nossa posição e luta espiritual. A armadura de Deus nos equipa para resistir a forças malignas organizadas e persistentes, que operam tanto no mundo visível quanto no espiritual. Ainda assim, a vitória está assegurada em Cristo, que derrotou todos os poderes das trevas na cruz. Este texto nos encoraja a permanecer firmes, revestidos da armadura divina, até o dia da plena redenção.

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