Em um movimento silencioso, mas estrondoso, a Apple acaba de assumir os direitos de transmissão da Fórmula 1 nos Estados Unidos por nada menos que US$ 140 milhões anuais. Um salto de 65% em relação ao que a ESPN pagava. A princípio, parece apenas um novo capítulo na corrida dos streamings por direitos esportivos. Mas é muito mais do que isso. É uma jogada milimetricamente pensada de licença estratégica e ambidestria corporativa.
A Apple não comprou a F1. Comprou o mindshare.
A grande sacada aqui não é a transmissão em si. A Apple não está apostando apenas no retorno via assinaturas do Apple TV+. Ela está investindo em presença simbólica, engajamento emocional e captura cultural.
A F1, impulsionada por sucessos como a série Drive to Survive e o recente filme estrelado por Brad Pitt, tornou-se uma nova arena de aspiração jovem e global. Nos EUA, 47% dos fãs da categoria têm entre 18 e 24 anos. Um público precioso para qualquer marca que queira manter relevância nos próximos 20 anos.
Ambidestria na veia: manter a máquina enquanto reinventa o volante
Enquanto o lado eficiente da Apple continua vendendo iPhones, AirPods e iPads como quem vende oxigênio, o lado exploratório faz apostas em territórios não convencionais. Fórmula 1 é um deles.
Isso é ambidestria: capacidade de operar e inovar ao mesmo tempo, de proteger o que funciona e explorar o que pode vir a funcionar.
Licenças estratégicas: invisíveis, mas poderosas
Pouca gente percebe, mas os grandes saltos de valor no mundo digital não estão mais ligados a ativos tangíveis. Estão em licenças: de conteúdo, de propriedade intelectual, de transmissão.
A Apple não comprou um estúdio, uma escuderia ou uma plataforma esportiva. Ela comprou o direito de fazer parte de uma narrativa. De habitar o imaginário coletivo da alta performance, da velocidade, da precisão.
Essa é a essência de uma licença estratégica bem executada: ela vale mais pelo que representa do que pelo que entrega diretamente.
Três lições para empresas de qualquer porte
- Narrativa é mais valiosa que inventário. Produtos vendem. Histórias constroem.
- Não espere o mercado estar pronto para agir. Prepare-o. A Apple entendeu que não se trata de transmitir F1, mas de transformar isso em cultura de consumo.
- Inove com licenças, não apenas com produtos. Licenças são atalhos para territórios simbólicos. Elas posicionam sua marca em lugares que seria impossível ocupar com capital industrial.
A Apple não está perseguindo audiências. Ela está redesenhando o mapa da atenção.
E se a sua empresa ainda está decidindo se entra no TikTok, talvez já tenha perdido a largada.