Nas grandes cidades o acesso aos serviços veterinários é simplificado através de clínicas e hospitais, inclusive, em algumas localidades gratuitos. No entanto, em áreas mais afastadas não é tão simples conseguir atendimento, seja para prevenção de doenças, como as zoonoses, ou até para consultas e cirurgias.
Exemplos disso são as comunidades quilombolas e ribeirinhas, no qual, muitas vezes, os serviços veterinários dificilmente chegam.
Para mudar essa realidade surgiu em 2024 o projeto Expedição Vet, idealizado pela médica-veterinária da Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA Belém Pará, Déborah Mara Costa de Oliveira.
“A criação do projeto nasceu através da necessidade de serviços veterinários gratuitos em comunidades quilombolas e ribeirinhas da Amazônia com destaque para o Estado do Pará, que foi onde tudo começou”, relata.
De acordo com a profissional, a principal finalidade do projeto é a promoção da saúde única na Amazônia.
Para isso são realizadas ações como assistência veterinária, educação em saúde pública com foco em práticas de manejo e prevenção de zoonoses, integração entre saúde animal, humana e ambiental de forma direta e fortalecimento do equilíbrio ecológico e social em comunidades pouco assistidas na região amazônica.
“A expedição chega em localidades onde o deslocamento com animais de companhia até a capital do Estado – Belém – é mais limitado, seja pela distância, por questões econômicas de seus responsáveis ou onde esse tipo de serviço não existe ou é demasiadamente escasso”, pontua.
Ações sem fins lucrativos
Todas as atividades realizadas pelo Expedição Vet são gratuitas. Deste modo, Déborah comenta que existem alguns apoiadores responsáveis por fazer com que tudo aconteça.

Esses apoiadores ajudam com o fornecimento de medicamentos e produtos veterinários e viabilização de transporte, alimentação e hospedagem dos voluntários quando a equipe precisa permanecer por mais de um dia na ação.
Além disso, também existem recursos vindos de editais estaduais ou federais para fomento de apoio a extensão.
“As atividades ocorrem em espaços comunitários reservados pelo líder comunitário ou em quadras esportivas de escolas e centros comunitários cedidas por prefeituras e entidades da sociedade civil”, esclarece.
Já quem está em campo, segundo Oliveira, são médicos-veterinários, zootecnistas, profissionais da saúde e meio ambiente e discentes de graduação e de pós-graduação voluntários.
Ingrid Leão é uma voluntária no projeto. A médica-veterinária é aluna do programa de pós-graduação em Saúde e Produção Animal da Universidade Federal Rural da Amazônia e participou de uma das ações na região de Marajó, no Pará.
“Essa é uma experiência única. Estou muito feliz e honrada pelo convite e por levar orientações veterinárias para a comunidade da cidade junto com a UFRA, uma universidade que abriu as portas para mim”, afirma.
Expedição Vet na prática
As atividades do projeto são realizadas, primeiramente, a partir de um diagnóstico situacional da localidade ou por demanda espontânea da comunidade.
Déborah relata que as ações são direcionadas a comunidades em condição de vulnerabilidade social e que não possuem acesso a serviços veterinários gratuitos. Dentre elas, estão comunidades quilombolas, ribeirinhas e rurais.
“Depois de selecionar o local, a ação é divulgada e no dia marcado a equipe leva atendimento veterinário e informação sobre saúde única até as comunidades”, cita a coordenadora.
Ainda conforme a veterinária, as expedições ocorrem mensalmente, utilizando embarcações que permitem alcançar localidades ribeirinhas e de difícil acesso, seja pela distância de Belém ou pela falta de outro meio de transporte.
“Durante as visitas, a depender da demanda observada ou solicitada pela comunidade, são ofertados serviços como vacinação antirrábica de cães e gatos, mutirões de castração, atendimentos clínicos e orientações veterinárias”, pontua.
Além disso, no escopo dos encontros estão também atividades educativas para prevenção de zoonoses, oficinas sobre manejo higiênico-sanitário dos animais e de alimentos de origem animal, práticas sobre manejo de dejetos, produção de materiais informativos educacionais e dinâmicas sobre descarte consciente de medicamentos e seus resíduos.

Resultados
Em apenas um ano, o Expedição Vet já beneficiou mais de 500 animais e percorreu desde comunidades próximas a Belém até a mesorregião do Marajó.
A idealizadora do projeto comenta que a falta de assistência veterinária regular é uma das principais necessidades das comunidades assistidas.
“Também vemos o elevado risco de zoonoses, tal como, Raiva, Esporotricose e Leishmaniose, além parasitoses gastrointestinais com ou sem caráter zoonótico. Notamos ainda a desinformação sobre segurança alimentar e econômica relacionada à saúde dos animais e dificuldades no manejo ambiental sanitário, fatores que comprometem tanto a saúde animal quanto a qualidade de vida dos responsáveis por estes”, explica.
Nazaré Leal é quilombola e moradora de uma comunidade localizada em Acará, no Pará. Para ela o Expedição Vet é muito importante, pois leva atendimentos essenciais para todos os moradores.
“Até o projeto chegar não tínhamos acesso a consultas veterinárias e vacinas. Aqui encontramos muita dificuldade para conseguir vacinar e proporcionar atendimento aos nossos animais. Para todos nós o projeto está sendo fundamental”, relata.
Para finalizar, Déborah pontua que, quando se leva informação técnica de qualidade e de forma simplificada diretamente a uma comunidade sobre o que são zoonoses e como essas doenças podem impactar suas vidas, é possível ver uma mudança de comportamento e preocupação com a saúde dos animais e das próprias pessoas.
“Acreditamos que cuidar dos animais é proteger a comunidade. Por isso, levamos serviços veterinários sob diferentes áreas que a nossa profissão abrange em prol do bem-estar e saúde animal e, por consequência, em prol da saúde humana em locais desassistidos”, conclui.
FAQ sobre o Expedição Vet
Quantos profissionais atuam nas ações do projeto?
A quantidade de pessoas varia de acordo com a demanda de cada comunidade. Nas expedições estão médicos-veterinários, zootecnistas e outros profissionais da saúde, meio ambiente e ciências sociais, que compõem uma equipe multidisciplinar.
Como os voluntários chegam nas comunidades?
O deslocamento até as comunidades é realizado, em sua maioria, através de embarcação fluvial, um meio de transporte essencial para alcançar os municípios ilhados da Amazônia onde não há estrada de acesso para veículos automotores.
Como ocorrem as expedições?
As expedições acontecem a partir do apoio de prefeituras locais, empresas privadas e da sociedade civil.
GRAD Brasil expande ações em comunidades indígenas
Direto Notícias Imparcial, Transparente e Direto!