Estruturas Rachadas – Religião

Estruturas Rachadas – Religião

Brigas, intrigas, dissidências e divisões sempre existiram na igreja cristã, quer de vertente católica ou protestante.  A história está aí para mostrar.  O popular “racha”, portanto, não é novidade para ninguém. No universo protestante, ele pode ser encontrado entre luteranos, batistas, presbiterianos e pentecostais. Contudo, dentro desse último grupo, mais especificamente na igreja de maior matriz pentecostal brasileira, há algo nesse aspecto que parece estar fugindo da normalidade.

Os rachas, quer de Convenções ou igrejas passaram a ser quase que corriqueiros. Basta observar essas páginas de fofoca gospel para se dar conta disso. Contudo, não podemos responsabilizá-las sozinhas por isso. Outros veículos de comunicação dentro do jornalismo profissional também têm verberado estes tristes fatos.  O que há de errado, portanto? São as igrejas, os pastores ou o sistema?

Vamos começar pelo último.

Vou fazer essa análise a partir da máxima de Rousseau, um dos filósofos contratualistas. Para Rousseau “os homens nascem bons, mas a sociedade o corrompe“. Nesse caso, a culpa seria da sociedade, isto é do sistema.  Contudo, há muito a Filosofia desmontou esse silogismo de Rousseau, mostrando que ele fundamenta-se numa falsa premissa. O homem não é ruim porque a sociedade o corrompe, visto que a sociedade corrompida é formada por esses homens “bons”.  Como disse Jesus, bom só um que é Deus. Assim, não podemos ver o sistema como a causa primária dos rachas. Ele tem a sua culpa, fomenta e aguça os rachas, mas não os origina.

Seria, então, a culpa das igrejas ou dos pastores? Um veterano pastor e amigo, que agora já dorme no Senhor, lançou luz sobre essa questão. Podemos dizer que ele matou dois coelhos com uma cajadada só.  Ele costumava dizer: “O problema das igrejas são os pastores!” Parece radical, mas faz sentido.  Em outras palavras, o problema são os homens, não as igrejas ou o sistema.  Nesse caso, portanto, vamos eliminar as igrejas e o sistema como causa primária e principal desses rachas.

Para vermos se isso é verdade basta checarmos as últimas timeline (linha do tempo) e feeds de alguns perfis do Instagram e Facebook. Infelizmente, vira e mexe, mas a coisa volta para onde começou – briga e disputa pelo poder. Não vou chamar de disputa por liderança porque quem quer a todo custo se manter no poder, se perpetuando nele, nem que para isso tenha que rachar igrejas, comprar apoio, desmontar e desmoralizar a Instituição, caluniar colegas, tudo porque não quer perder privilégios, não pode mais ser considerado um líder. Virou um mero chefe! Às vezes se tornou um déspota! Acredito que já está passando do tempo de fazermos uma análise crítica dessas coisas ou vamos continuar assistindo a essa extraordinária denominação sendo motivo de motejo e escárnio.

Acredito que em lugar de alguns estudos, supostamente bíblicos, pregados em nossas reuniões convencionais, que apenas servem para aumentar a obesidade espiritual de muitos, seria muito mais proveitoso chamar alguém para falar, por exemplo de: “Dez princípios bíblicos fundamentais para quem quer ser um pastor ou presidente de Convenção”. Descobriríamos, por exemplo, que nossos Pioneiros, quando lideravam a Instituição, costumavam se revezar no poder.  Isso evitava vícios que o poder alimenta.  Deveríamos ter também uma disciplina em nossos Seminários intitulada: “Como pensavam e viviam os Pioneiros”. Assim, veríamos o que disse, por exemplo, William H. Durham, o gigante pentecostal da Avenida Norte de Chicago: “Se você quer servir a Deus de forma agradável fique fora das Instituições (institucionalismo)” ou Gunnar Vingren, fundador das Assembleias de Deus: “As igrejas devem ser livres e um pastor não deve mandar em outro”.

Se seguíssemos esses princípios, possivelmente acabaríamos com 90% dos rachas. Há, portanto, fissuras na estrutura e cabe a nós consertá-las. Não estaria essa causa na má formação pastoral? Que há algo errado na atual formação pastoral não há nenhuma dúvida.  Há uma mentalidade de “carreirismo”. Assim, as igrejas passaram a ser vistas como empresas e os pastores como executivos.  No universo convencional a coisa segue a mesma linha. Daí a briga para se pastorear uma grande igreja e, a todo custo, se manter no topo – na presidência de uma Convenção.  É aqui onde ocorre o flerte com o poder público e muitos tem descido correnteza abaixo! A tentação se torna irresistível.  Ser um simples pastor de uma pequena igreja já não causa tanto interesse.

O sistema tem sua perversão, mas o homem é quem o alimenta para dele se beneficiar. Que Deus nos ajude e nos guarde!

Autor: José Gonçalves. Pastor na Assembleia de Deus de Água Branca (PI), escritor, comentarista das lições CPAD Adultos, Bacharel em Teologia (STBT), graduado em Filosofia (UFPI) e Mestre em Teologia pela FABAPAR.

Artigo compartilhado sob autorização do autor

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