Alterações hormonais podem afetar cachorros e gatos de diferentes formas, mas duas doenças frequentemente confundidas devido à semelhança de alguns sintomas são o hipotireoidismo e o hiperadrenocorticismo (também chamado de Síndrome de Cushing).
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Para esclarecer as diferenças entre as duas enfermidades, conversamos com a médica-veterinária Beatriz Quevedo Camargo, formada pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) e pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia de Cães e Gatos pela Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais de São Paulo (ANCLIVEPA).
O hipotireoidismo é provocado pela produção insuficiente dos hormônios tireoidianos: T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina).
A baixa concentração desses hormônios reduz o metabolismo do organismo como um todo, causando sinais como letargia, ganho de peso, infecções dermatológicas secundárias e perda da qualidade do pelame.
“Podemos dizer que 90% dos casos são causados por tireoidite linfocítica, uma reação autoimune que leva à destruição do tecido da tireoide. Outras causas incluem neoplasia e atrofia idiopática”, diz a médica-veterinária.
Em gatos, a condição é rara e pode surgir por overdose de medicações antitireoideanas, como o metimazol, utilizado no tratamento do hipertireoidismo.
Mas em ambas as espécies, cães e felinos, o problema também pode ser congênito.
Em cachorros, a doença afeta principalmente os de meia-idade e com maior predisposição em raças, como golden retriever, boxer, dachshund, Doberman, schnauzer, poodle, beagle e cocker spaniel.
Já o hiperadrenocorticismo é uma enfermidade caracterizada pela elaboração excessiva de cortisol, hormônio produzido pelas glândulas adrenais.
“Entre os principais sinais clínicos estão sobrepeso ou obesidade, aumento da fome (polifagia), aumento da produção de urina (poliúria), aumento da sede (polidipsia), abdômen abaulado, fraqueza muscular, cansaço fácil, intolerância ao calor e alterações dermatológicas, como alopecia e infecções secundárias”, explica Beatriz.
A doença pode ter origem na hipófise ou em uma ou ambas as glândulas adrenais, devido a hipertrofia ou neoplasia.
Também pode ocorrer de forma iatrogênica, quando há uso excessivo de glicocorticoides.
Assim como o hipotireoidismo, o hiperadrenocorticismo acomete mais frequentemente cães de meia-idade, sendo comuns em raças, como poodle, Yorkshire, beagle, dachshund e pastor alemão.

Como os exames ajudam a diferenciar as duas condições?
O diagnóstico do hipotireoidismo envolve a mensuração dos hormônios TSH, T4 total e T4 livre por diálise, analisados em conjunto com os sinais clínicos.
O resultado compatível costuma ser TSH normal ou aumentado, com T4 livre abaixo da referência.
Alterações laboratoriais comuns incluem anemia normocítica normocrômica, aumento de enzimas hepáticas e colesterol elevado.
“Para o hiperadrenocorticismo, o teste padrão ouro é o de Supressão por Dexametasona, embora existam outros, como o teste de Estimulação por ACTH e a dosagem de cortisol/creatinina urinária. A escolha do exame deve ser individualizada conforme o paciente”, completa a especialista.
Ainda de acordo com Camargo, o hiperadrenocorticismo é a doença endócrina mais frequente em cães.
A doença hormonal mais prevalente nos felinos é o hipertireoidismo, caracterizado pelo excesso — e não falta — de hormônios tireoidianos.

Quais são os tratamentos e como diferenciar os males?
O tratamento do hipotireoidismo é feito com reposições diárias de hormônios tireoidianos, além de manejo das condições associadas, como controle de peso e tratamento de infecções dermatológicas secundárias.
Já o hiperadrenocorticismo é tratado por meio do controle medicamentoso da produção de cortisol, podendo, em alguns casos, exigir a remoção cirúrgica da glândula adrenal afetada.
Assim como no hipotireoidismo, também é necessária a abordagem das alterações metabólicas secundárias.
Para os clínicos veterinários, algumas pistas ajudam na distinção entre as doenças:
- Hipotireoidismo: Ganho de peso sem aumento da fome, anemia frequente e letargia marcante.
- Hiperadrenocorticismo: Polifagia comum, parâmetros hematológicos elevados e hepatomegalia ou adrenomegalia mais frequentes na ultrassonografia.
Apesar das diferenças, Camargo lembra que ambas podem ocorrer em pacientes com sobrepeso e alterações dermatológicas, além de exames indicando alterações lipídicas e hepáticas, reforçando a importância de avaliação hormonal criteriosa.
FAQ sobre hipotireoidismo e hiperadrenocorticismo
Qual a diferença principal entre as duas enfermidades?
O hipotireoidismo é causado pela baixa produção dos hormônios T3 e T4, enquanto o hiperadrenocorticismo se caracteriza pelo excesso de cortisol.
Quais exames confirmam cada uma das doenças?
No hipotireoidismo, avaliam-se TSH, T4 total e T4 livre. No hiperadrenocorticismo, o teste de Supressão por Dexametasona é o padrão, podendo ser complementado por outros exames.
Quais são as principais características de cada enfermidade?
No hipotireoidismo pode ocorrer ganho de peso sem aumento da fome e anemia frequente e o hiperadrenocorticismo é marcado por parâmetros hematológicos elevados e hepatomegalia.
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