Você sabia que alterações metabólicas e hormonais podem desencadear doenças dermatológicas complexas em cães e gatos? É o caso da calcinose cutânea — uma síndrome dermatológica caracterizada pela deposição anormal de sais minerais na pele — e do hiperadrenocorticismo, também conhecido como Síndrome de Cushing, frequentemente envolvido no processo.
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Embora distintas em origem, as duas condições estão intimamente relacionadas e compreender essa conexão é fundamental para que o clínico alcance um diagnóstico seguro e conduza o tratamento de forma eficaz.
Para entender melhor como essas enfermidades surgem e quais desafios impõem no atendimento, conversamos com Vittoria Tomazela Boza, médica-veterinária do Hospital Veterinário do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ).
Segundo a profissional, a calcinose cutânea é um processo pouco comum e marcado pela deposição de minerais, especialmente cálcio, em estruturas dérmicas e, em casos mais expressivos, também na epiderme.
Esse acúmulo resulta em nódulos ou placas endurecidas, normalmente esbranquiçadas, que podem ulcerar ou causar dor local.
“Essas lesões frequentemente apresentam textura firme e, quando há inflamação secundária, observamos sensibilidade à manipulação”, explica a médica-veterinária.
Já o hiperadrenocorticismo — seja espontâneo ou induzido pelo uso inadequado de corticosteróides — desempenha papel central em parte dos casos.
“O cortisol elevado leva à maior degradação de colágeno e a distúrbios no metabolismo do cálcio, fatores que contribuem diretamente para o desenvolvimento da Síndrome de Cushing”, explica Vittoria.
Embora exista essa associação clássica, nem todos os episódios têm origem endócrina. Distúrbios envolvendo o equilíbrio de cálcio e fósforo, assim como o uso prolongado de corticosteróides sem acompanhamento, também podem desencadear o quadro, exigindo investigação ampla.

Diagnóstico: por que a biópsia é decisiva
Como diversas dermatoses podem gerar ferimentos semelhantes, a confirmação depende da histopatologia.
A avaliação clínica orienta a suspeita, mas não é suficiente para diferenciar as possíveis causas.
“A biópsia é o método mais seguro e conclusivo porque outras doenças podem mimetizar o aspecto das lesões. Na maioria dos casos, ela é indicada para confirmação diagnóstica e planejamento terapêutico”, destaca a entrevistada.
A análise histológica identifica a deposição granular ou lamelar de cálcio e alterações associadas, como degeneração colágena, fornecendo as bases do resultado definitivo.
Manejo terapêutico: da enfermidade primária à pele
O tratamento da calcinose demanda abordagem dupla: controlar a causa subjacente e manejar as lesões cutâneas.
Mesmo sem um protocolo único, costuma-se combinar terapias tópicas, fármacos sistêmicos e — quando o quadro é extenso — remoção cirúrgica.
Já o controle do hiperadrenocorticismo, quando presente, é determinante para impedir o avanço das placas.
A reversibilidade, porém, é variável. Casos iniciais respondem melhor, enquanto ferimentos crônicos tendem a regredir parcialmente. O tempo de recuperação é imprevisível, podendo variar de semanas a vários meses.

Por que cães são mais afetados?
A incidência mais alta em cachorros está relacionada à maior frequência de hiperadrenocorticismo na espécie. Felinos raramente apresentam a endocrinopatia, o que torna igualmente raro o desenvolvimento da calcinose cutânea.
“Quando ocorre em gatos, a lógica é semelhante: distúrbios hormonais, uso inadequado de corticosteróides ou alterações metabólicas que favorecem a deposição mineral”, afirma Vittoria.
Não há dieta ou suplemento capaz de prevenir a calcinose cutânea. A melhor estratégia é o acompanhamento veterinário periódico e o uso responsável de fármacos, especialmente corticosteróides.
Como conclui a entrevistada: “Evitar automedicação é essencial, já que muitos quadros se desenvolvem justamente pelo uso indevido dessas substâncias.”
FAQ sobre calcinose cutânea
O que causa a síndrome dermatológica em cães e gatos?
A calcinose cutânea ocorre pela deposição anormal de minerais, especialmente cálcio, na pele. Ela pode estar associada ao hiperadrenocorticismo, a distúrbios no equilíbrio cálcio-fósforo ou ao uso prolongado e inadequado de corticosteróides.
Como é feito o diagnóstico da calcinose cutânea?
O diagnóstico depende da biópsia e da avaliação histopatológica, que identificam o padrão de deposição de cálcio e alterações como degeneração colágena.
A síndrome dermatológica pode ser revertida com tratamento?
A reversibilidade é variável: casos iniciais têm melhores resultados, enquanto lesões crônicas tendem a apresentar regressão apenas parcial.
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