Doença Valvar Mitral em Cães: o que a clínica precisa saber?

Doença Valvar Mitral em Cães: o que a clínica precisa saber?

Condição adquirida, mas com forte componente hereditário, cujo impacto clínico tende a aumentar com a idade, a Doença Valvar Mitral (DVM) é a afecção cardíaca mais frequentemente diagnosticada na rotina veterinária. Segundo especialistas, apesar de silenciosa em suas fases iniciais, a enfermidade pode evoluir para quadros de insuficiência cardíaca congestiva se não monitorada adequadamente.

A Dra. Bruna Bruler, médica-veterinária e doutora em Medicina Experimental e Comparada com ênfase em Cardiologia, explica que “a doença valvar mitral é a cardiopatia mais prevalente em cães de qualquer porte ou raça, mas é especialmente comum em cães pequenos, menores que 15 kg. Embora adquirida, ela traz um importante componente genético hereditário. Isso significa que o cão nasce saudável, mas geneticamente predisposto à desenvolver a degeneração com a idade, que tende a se iniciar a partir dos 5 ou 6 anos”.

Cães da raça Cavalier King Charles Spaniel, no entanto, são uma exceção, apresentando alterações anatômicas que favorecem a degeneração valvar precoce. “Já quando se trata de populações de cães de raças pequenas acima de 10 anos, a prevalência pode chegar a 100% em alguns contextos clínicos”, acrescenta Bruler.

De forma geral, os sinais clínicos visíveis tendem a aparecer apenas nas fases mais avançadas da doença.

“Os sintomas evidentes ocorrem a partir do momento que o átrio esquerdo, já muito dilatado pelo volume de sangue que regurgita pela valva mitral a cada batimento, não consegue mais receber volume sem que haja um incremento substancial da pressão. Isso resulta em elevação da pressão hidrostática nas veias pulmonares, causando extravasamento do conteúdo líquido do sangue no leito capilar pulmonar, conhecido por edema pulmonar cardiogênico”, explica a especialista.

Antes da descompensação clínica, no entanto, sinais mais sutis já podem surgir: “São sinais como cansaço fácil e intolerância ao exercício, que costumam ser percebidos por tutores mais atentos”, completa Bruler.

A tosse, embora comumente atribuída à cardiopatias, vem sendo reinterpretada. “Esse sintoma atualmente é mais associado a doenças respiratórias que causam enfraquecimento e colapso brônquico. Porém, o aumento do átrio esquerdo na doença mitral avançada, associado a brônquios mais maleáveis, tende a desencadear e/ou agravar quadros de tosse importantes, ainda em estágios de doença cardíaca subclínica”.

Dra. Patrícia Gonçalves Alves, médica-veterinária no Hospital Veterinário da UniMAX, reforça os dados epidemiológicos.

“Artigos científicos comprovam que 10% dos cães são cardiopatas, e 75% dos casos correspondem a doenças valvares degenerativas. A DVM mitral e tricúspide são as mais comuns, enquanto as valvopatias aórtica e pulmonar são mais raras”, destaca.

Especialista em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais e em Cardiologista Veterinária, ela salienta ainda que o envelhecimento é um fator determinante: “Todos os cães desenvolvem um certo grau de degeneração em 85% deles, acima de 8 anos, com frequência maior em cães abaixo de 20 kg. Os machos são mais afetados do que as fêmeas, com uma relação de 1,5:1”.

Ela também destaca as raças mais predispostas: cavalier king charles spaniel, poodle, dachshund, chihuahua, yorkshire terrier, shih-tzu, maltês, schnauzer e cocker spaniel.

Cães da raça yorkshire também possuem predisposição para o desenvolvimento de Doença Valvar Mitral (Foto: Reprodução)

Diagnóstico clínico e papel da ausculta na suspeita inicial

O primeiro sinal da Doença Valvar Mitral muitas vezes é detectado de forma simples: pelo estetoscópio. Para a Dra. Bruna Bruler, a ausculta cardíaca ainda é a ferramenta de triagem mais eficiente e acessível.

“A ferramenta mais importante, barata e acessível para o diagnóstico da doença mitral é, sem dúvida, um bom ouvido. A ausculta de um sopro cardíaco sistólico em foco mitral em um cão adulto que anteriormente não apresentava essa alteração é uma confirmação quase certeira da instalação dessa doença”, afirma.

Entretanto, identificar o sopro é apenas o início. “Mais que diagnosticar, é fundamental estadiar e entender a gravidade da doença. Saber se há remodelamento atrioventricular, se há prolapso das cúspides mitral ou tricuspídeas, quão expressivo é o volume regurgitante, se há evidência de aumento das pressões de enchimento ventricular ou hipertensão pulmonar associada.

Todos esses parâmetros são fundamentais na decisão da instituição ou não de um protocolo terapêutico”, explica e ressalta que a ecocardiografia é indispensável para essa análise mais aprofundada.

Nos casos em que o paciente apresenta sintomas respiratórios ou crepitação pulmonar, a radiografia torácica torna-se uma aliada importante na suspeita de edema pulmonar cardiogênico. Mas, sua interpretação exige cautela.

“Ainda que a radiografia de tórax nos dê evidências de cardiomegalia, há muitas limitações e fatores de confusão que podem estar associados a esse aparente aumento da silhueta, o que faz do exame ecocardiográfico um padrão-ouro para confirmação de aumento cardíaco”, informa.

Arritmias secundárias ao remodelamento cardíaco também podem ocorrer, especialmente em estágios avançados. “Ainda que a degeneração mitral não seja primariamente uma doença do tecido elétrico, o avanço da condição pode gerar morte celular e comprometimento do tecido de condução, gerando quadros de arritmias. Quando há suspeita clínica, o eletrocardiograma é indicado para avaliação de alterações como extrasístoles ou fibrilação atrial”, complementa a especialista.

Confira o artigo completo “Doença Valvar Mitral em Cães: o que a clínica precisa saber”, na íntegra e sem custo, acessando a página 20 da edição de agosto (nº 312) da Revista Cães e Gatos.

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