Não é preciso ir longe pra perceber que o valor da liderança e seu poder foram exilados do dia a dia das organizações.
Liderança virou protocolo.
Virou cargo.
Virou título bonito no LinkedIn com pouca consequência real.
Mas o “aprisionamento do seu poder” foi auto infligido.
“Liderança não morre por ataque externo. Ela morre por abandono interno.”
— John Gardner, ex-secretário de saúde dos EUA
Foi sequestrada pelos que agem como meros funcionários também — que cumprem tabela, reproduzem decisões e confundem estabilidade com sucesso.
Foi aprisionada pela busca do caminho fácil, onde a preferência por consensos mornos substitui a ousadia de mover primeiro.
Foi amordaçada pelo coitadismo viral, onde toda adversidade vira trauma e toda cobrança é vista como opressão.
Foi confinada na infantilização infinita, onde se espera que o líder agrade a todos, nunca incomode e sirva como animador de equipe.
Foi encurralada pela procrastinação do alinhamento protetivo, onde toda decisão exige trinta comitês e o medo de errar paralisa qualquer avanço.
Foi abandonada em troca da apatia segura, onde o silêncio vale mais que a convicção, e manter o cargo pesa mais do que honrar a missão.
Não é à toa que ninguém mais quer ser líder.
Ninguém vai querer ser um líder enquanto ser líder for isso aí.
De acordo com um estudo da Gartner (2024), 63% dos líderes de primeira linha relataram arrependimento em ter assumido o cargo.
O número sobe para 76% entre millennials que assumiram funções de gestão nos últimos 5 anos.
E uma pesquisa da McKinsey com mais de 15 mil profissionais revelou que “a ausência de liderança inspiradora” é o motivo número 1 de desligamentos voluntários.
Estamos diante de uma crise simbólica da liderança.
A “liderança” precisa urgente de resgate.
E isso passa pela própria ressignificação do que é ser líder.
Não se trata de romantizar o líder-herói, mas de lembrar que liderança é ação, não ornamento.
É movimento antes de direção.
É presença antes de influência.
“O único teste real de liderança é a disposição de assumir responsabilidade.”
— Max De Pree
Líder vai na frente, age como farol, move barreiras, se arrisca, se posiciona, faz primeiro, suja a mão, cria seus próprios desafios, constrange pelo exemplo.
É quem segura o simbólico da cultura.
É quem sustenta o desconforto enquanto os outros ainda estão fugindo dele.
Num mundo cada vez mais ambíguo, incerto e superficial, liderança de verdade exige densidade.
Exige profundidade emocional.
Exige coerência entre o que se diz e o que se vive.
“O líder é aquele que define a realidade e, em seguida, diz obrigado.”
— Max De Pree
Liderança hoje se esconde pelas sombras.
Um líder de verdade brilha no escuro.
Não espera o farol acender. Ele é o farol.
E o mais importante:
O resgate da liderança só pode ser feito pelos próprios líderes.
Não será feito pelo RH, nem por coachings motivacionais, nem por slogans de cultura.
Será feito no campo — na prática — na decisão corajosa de não se apequenar diante do possível.
Salve-se quem puder.