Compreender os circuitos neurofisiológicos por trás da dor é fundamental para avançar no manejo dos pacientes veterinários, sobretudo nas fases subclínicas e na dor crônica.
Apesar de ser uma experiência subjetiva, a dor possui marcadores neurofisiológicos bem definidos, com vias sensoriais, motores e moduladoras que começam a ser estudadas ainda no curso de graduação. Na prática clínica, porém, identificar e controlar a dor em cães e gatos ainda é um dos maiores desafios do veterinário.
Em sua palestra realizada no COMDOR – Congresso Medvep de Dor e Anestesiologia Veterinária, que ocorreu de 31 de Julho a 02 de agosto, no Expo Dom Pedro, em Campinas (SP), Leonardo Ávila – doutor em Neurociências e especialista em tratamento não farmacológico da dor crônica, trouxe um panorama da neurociência da dor, destacando que o maior avanço no campo não está apenas no desenvolvimento de novas drogas, mas na melhoria da percepção da dor pelo profissional e no uso estratégico de ferramentas já disponíveis.
“Quando entendemos como o sistema nervoso processa e modula a dor, conseguimos intervir de forma mais inteligente e precoce, evitando que a dor aguda se torne crônica ou que a sensibilização central se instale”, destaca Ávila.
A dor não é apenas um reflexo de lesão tecidual. Ávila reforça que a dor pode existir sem inflamação ativa, por mecanismos de sensibilização central, em que os neurônios nociceptores tornam-se hiper-responsivos, mesmo com estímulos mínimos. “Esse paciente não está simulando. Ele sente dor real, mesmo que a causa original já tenha sido resolvida.”
Esse conceito é especialmente importante na prática com pacientes geriátricos, portadores de doença articular degenerativa (DAD), neoplasias ou doenças neurológicas crônicas, cujas manifestações comportamentais podem ser sutis e facilmente subestimadas.
Revisando os pilares do controle da dor
Ao discutir o manejo da dor, o palestrante enfatizou o conceito de analgesia multimodal, ou seja, o uso de diferentes fármacos que atuam em múltiplos pontos da cascata nociceptiva.
Entre os principais grupos farmacológicos citados estão:
- Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs): eficazes na fase inicial inflamatória;
- Opioides, como morfina, metadona e fentanil: importantes em dores intensas;
- Adjuvantes, como gabapentina, amantadina, cetamina e antidepressivos tricíclicos: indicados para dor neuropática e modulação central.
O ponto-chave, segundo ele, é não esperar a dor se manifestar de forma intensa para então medicar. “A dor tratada tardiamente exige doses maiores e tem efeitos colaterais mais pronunciados. Quando antecipamos a dor, tratamos melhor o paciente e com menos impacto.”
Ávila deixou uma provocação importante: a dor se traduz em mudança de comportamento.
“Cabe ao veterinário treinar seu olhar para identificar sinais precoces — desde alterações no apetite, interação, postura e locomoção, até sinais mais específicos como vocalizações e agressividade repentina”, pontua.
Confira o artigo completo “A ciência da dor”, na íntegra e sem custo, acessando a página 10 da edição de agosto (nº 312) da Revista Cães e Gatos.