A medicina preventiva ainda é uma área subestimada dentro da rotina clínica veterinária, especialmente quando se trata da saúde dos felinos. No entanto, garantir uma vida longa e saudável para os gatos passa, necessariamente, por uma mudança de mentalidade — tanto por parte dos tutores quanto dos profissionais.
Em entrevista exclusiva à revista Cães&Gatos, o médico-veterinário Alexandre G. T. Daniel (MV, MSc, DSc, Dipl. ABVP) destacou que o conceito de medicina preventiva enfrenta desafios para ser efetivamente incorporado à prática clínica.
“É uma temática extremamente negligenciada. Os veterinários têm muita dificuldade em aplicar esse conceito no dia a dia, mas ele é a base de uma boa clínica”, afirma.
Diferentemente das áreas que lidam com emergências ou doenças complexas, a medicina preventiva exige uma atuação proativa, pautada no diagnóstico precoce e na educação do tutor.
“O gato é um animal que, por sua natureza evolutiva, esconde os sintomas. Quando demonstra sinais clínicos, muitas vezes a doença já está em estágio avançado. O objetivo é identificar problemas antes disso acontecer”, explica o especialista.
Alexandre ressalta que, até 2010, sequer existiam diretrizes claras sobre o assunto. Foi a partir de esforços internacionais — especialmente da Associação Americana de Veterinários Felinos — que surgiram os primeiros documentos científicos voltados à padronização de protocolos preventivos, com foco em exames por faixa etária, rastreamento de doenças e orientações específicas para cada fase da vida do gato.
“Antes disso, nem o tutor sabia que precisava levar o gato ao veterinário com regularidade, e muitos profissionais também não recomendavam isso por falta de protocolo.”
O especialista defende que, para garantir longevidade com qualidade de vida, é preciso criar um ambiente mais acolhedor para o gato na clínica, educar os tutores e adotar uma rotina de monitoramento constante, mesmo quando o animal está saudável. Afinal, cuidar antes de adoecer é o caminho mais eficaz — e econômico — para promover bem-estar e saúde duradoura aos felinos.
Além de ampliar a expectativa e a qualidade de vida dos felinos, a medicina preventiva também é uma estratégia financeiramente vantajosa para os tutores.
De acordo com ele, estudos mostram que o tutor que leva o gato anualmente ao veterinário por dez anos acaba gastando menos do que aquele que só procura atendimento no momento de uma emergência.
“No cenário de quem negligencia o cuidado preventivo, o gasto com um único episódio crítico costuma ser muito maior — sem falar no impacto para a saúde do animal”, alerta.
Apesar das evidências, a adesão dos profissionais ainda é baixa. “Menos de 20% dos veterinários na plateia afirmaram realizar a medicina preventiva de forma sistemática”, conta o especialista. Segundo ele, ainda há um longo caminho para incorporar essa mentalidade nas rotinas clínicas. E essa mudança precisa começar de dentro para fora: da clínica para o tutor.
Confira o artigo completo “De olho no gato”, na íntegra e sem custo, acessando a página 40 da edição de agosto (nº 312) da Revista Cães e Gatos.