Com uma longa fase assintomática, a Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH) é a doença cardíaca mais comum em gatos. Sua prevalência é tão importante que estudos científicos apontam que a condição acomete 15% da população geral de gatos e esse número pode chegar a mais de 30% nas raças predispostas.
O médico-veterinário especializado em Cardiologia veterinária, Carlos Eduardo Rabêlo Lopes, explica que a enfermidade é definida como uma doença primária do músculo cardíaco (miocárdio) e caracterizada pelo espessamento (hipertrofia) das paredes do ventrículo esquerdo.
“Sua principal causa é genética. Mutações em genes que codificam as proteínas do sarcômero – a unidade contrátil do músculo cardíaco – são responsáveis pelo desenvolvimento da CMH em diversas raças”, esclarece.
Essa mutação genética é a responsável por gerar um crescimento desorganizado e excessivo das células musculares cardíacas. Porém, em alguns casos, a hipertrofia pode ser secundária a uma sobrecarga de pressão crônica, como a causada pela hipertensão arterial.
Devido ao caráter hereditário, a Cardiomiopatia Hipertrófica apresenta predisposição racial e etária.
“Raças como Maine Coon e Ragdoll têm mutações genéticas conhecidas que causam a CMH. Outras raças com alta incidência são British Shorthair, Sphynx, Persa e Norueguês da Floresta”, exemplifica.
Já com relação a predisposição etária, o profissional comenta que a condição pode ser diagnosticada em gatos de qualquer idade. Contudo, é mais comum em animais de meia-idade a idosos, geralmente entre cinco e dez, por mais que em raças com forte componente genético possa se desenvolver em felinos mais jovens.

Complicações vão além do coração
A Cardiomiopatia Hipertrófica acomete diretamente o coração dos felinos. No entanto, pode desencadear diversas alterações hemodinâmicas e funcionais no organismo do animal.
Uma das possíveis complicações é a disfunção diastólica. “O principal problema na CMH não é a contração, mas sim o relaxamento do coração. O ventrículo hipertrofiado torna-se rígido e perde a capacidade de relaxar e encher de sangue adequadamente durante a diástole” pontua o especialista.
Segundo ele, pode ocorrer também aumento do átrio esquerdo, pois, devido a dificuldade de enchimento do ventrículo, o sangue se acumula no local, que acaba dilatando para acomodar o excesso de volume e pressão.
“A congestão pulmonar é outra alteração que deve ser considerada. Quando a pressão no átrio esquerdo se eleva criticamente ocorre o extravasamento de fluído para os pulmões, caracterizando a insuficiência cardíaca congestiva (ICC), principal causa de dificuldade respiratória nesses pacientes”, cita Lopes.
Além disso, a doença pode predispor a formação de trombos, pois a dilatação e a disfunção do átrio esquerdo favorecem a estagnação do sangue. “Caso um fragmento de trombo se solte, percorra a corrente sanguínea e obstrua uma artéria, como a aorta terminal, ocorre um tromboembolismo arterial (TEA)”, complementa.
Carlos Eduardo ainda relata que gatos com Cardiomiopatia Hipertrófica podem apresentar morte súbita cardíaca, geralmente causada por uma arritmia maligna fatal.
Sinais clínicos da Cardiomiopatia Hipertrófica
A CMH tem uma característica importante e muito negativa, que é a sua fase pré-clínica prolongada. O médico-veterinário comenta que muitos gatos não apresentam qualquer sinal clínico até que a doença progrida para um estágio avançado.
Devido a isso, quando os sintomas aparecem eles podem ser súbitos e graves.
“Os sinais de insuficiência cardíaca congestiva (ICC), uma das complicações da enfermidade, são taquipneia, dispneia, respiração com a boca aberta e cansaço fácil. Já o tromboembolismo arterial (TEA) é uma manifestação aguda, que pode causar paralisia súbita dos membros posteriores e dor. Os membros afetados também ficam frios e sem pulso”, cita.
Confira o artigo completo “Cardiomiopatia hipertrófica: quando a genética afeta o coração”, na íntegra e sem custo, acessando a página 44 da edição de agosto (nº 312) da Revista Cães e Gatos.