O termo urolitíase tem origem no grego, em que uro refere-se ao prefixo de urina e lithos significa “pedra”, portanto, corresponde à formação de cálculos no trato urinário(1).
Um urólito pode ser definido como a agregação de cristais e matriz orgânica que se forma em um ou mais locais do trato urinário, quando a urina encontra-se supersaturada com substâncias cristalogênicas. Esses cálculos podem ser compostos por um ou mais tipos de minerais (2,3).
Diversos tipos de urólitos podem ser identificados em cães e gatos, como: estruvita, oxalato de cálcio, urato, xantina, cistina, sílica, entre outros. Em estudo conduzido na Universidade de São Paulo com cães, a estruvita foi o tipo de urólito mais frequente (47,6%), seguido do oxalato de cálcio com (37,9%) (4).
Em gatos, pesquisa realizada na Universidade Federal de Goiás também demostrou predominância dos cálculos de estruvita (47%), seguido pelo urato (38,3%) e oxalato de cálcio (14,7%) (5).
A formação dos urólitos é considerada multifatorial, podendo sofrer influência da nutrição, medicamentos, infecções, manejo, genética, características anatômicas, sexo, idade e alterações metabólicas. A estratégia nutricional depende diretamente do tipo de urólito, em especial da composição do seu núcleo (6,7).
O urólito é formado por diferentes camadas: núcleo, pedra, parede e cristais de superfície. O núcleo, localizado na região central, constitui o ponto inicial da formação do cálculo e é determinante para direcionar o tratamento e a prevenção.
O conhecimento da composição mineral das camadas do urólito é fundamental para a definição da conduta terapêutica mais adequada, seja por meio da dissolução nutricional ou a remoção cirúrgica, e pode ser obtida por meio da análise qualitativa e quantitativa por camadas do urólito (1).
É importante destacar que a análise quantitativa, realizada por meio da maceração do cálculo, revela apenas os minerais presentes, mas não diferencia suas camadas. Assim, em cálculos mistos ou compostos, esse método pode ser pouco útil, já que não identifica a composição específica do núcleo.
Por isso, análise qualitativa e quantitativa por camadas do urólito é considerada o padrão-ouro para orientar corretamente a conduta clínica (7–9).
Outro ponto a destacar, é que a cristalúria, eliminação de cristais na urina, não é sinônimo de formação de urólitos. Também não representa, por si só, evidência irrefutável de tendência à formação de cálculos.
Em animais com trato urinário anatomicamente e funcionalmente normais, a presença de cristais costuma ser inofensiva, clinicamente irrelevante e não justifica o tratamento (1).
Confira o artigo completo “Urolitíases em cães e gatos: quando a dieta resolve e quando a cirurgia é necessária?”, na íntegra e sem custo, acessando a página 48 da edição de agosto (nº 314) da Revista Cães e Gatos.
Fonte:
1. Lulich JP, Osborne CA, Albasan H. Canine and Feline Urolithiasis: Diagnosis, Treatment, and Prevention. Em: Nephrology and Urology of Small Animals [Internet]. Wiley; 2011. p. 685–706. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/9781118785546.ch69
2. Ulrich LK, Kathleen AB, Lori AK, Laura S. Urolith Analysis: Submission, Methods, and Interpretation. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice [Internet]. março de 1996;26(2):393–400. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0195561696502184
3. Tion M, Dvorska J, Saganuwan S. A review on urolithiasis in dogs and cats. Bulg J Vet Med [Internet]. 2015;18(1):1–18. Disponível em: http://tru.uni-sz.bg/bjvm/BJVM-March%202015%20p.1-18.pdf
4. Oyafuso MK, Kogika MM, Waki MF, Prosser CS, Cavalcante CZ, Wirthl VABF. Urolitíase em cães: avaliação quantitativa da composição mineral de 156 urólitos. Ciência Rural [Internet]. fevereiro de 2010;40(1):102–8. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782010000100017&lng=pt&tlng=pt
5. Gomes VR, Ariza PC, Silva MAM, Schulz Jr. FJ, Oliveira HF, Queiroz LL, et al. Mineral composition and clinical aspects of urolithiasis in cats in Brazil. Arq Bras Med Vet Zootec [Internet]. agosto de 2022;74(4):649–61. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-09352022000400649&tlng=en
6. Kopecny L, Palm CA, Segev G, Westropp JL. Urolithiasis in dogs: Evaluation of trends in urolith composition and risk factors (2006‐2018). J Vet Intern Med [Internet]. 7 de maio de 2021;35(3):1406–15. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jvim.16114
7. Queau Y. Nutritional Management of Urolithiasis. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice [Internet]. 1o de março de 2019;49(2):175–86. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0195561618301323
8. Bovee KC, Mcguire T. Qualitative and quantitative analysis of uroliths in dogs : Definitive determination of chemical type. J Am Vet Med Assoc. 1984;185(9):983–7.
9. Osborne CA, Lulich JP, Kruger JM, Ulrich LK, Koehler LA. Analysis of 451,891 Canine Uroliths, Feline Uroliths, and Feline Urethral Plugs from 1981 to 2007: Perspectives from the Minnesota Urolith Center. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice [Internet]. janeiro de 2009;39(1):183–97. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0195561608001654.