Se você é empresário, executivo, líder de setor ou dono de uma indústria, uma pergunta precisa incomodá-lo profundamente neste momento: o que fazer quando o Brasil passa a figurar na lista negra de uma das maiores potências comerciais do planeta?
No dia 9 de julho de 2025, Donald Trump enviou ao presidente Lula uma carta que soou como um recado duro e definitivo: todos os produtos brasileiros passarão a pagar uma tarifa de 50% para entrar nos EUA a partir de 1º de agosto.
O tarifaço é tão amplo quanto simbólico.
E por isso, perigoso.
O recado que veio pelo imposto
Trump diz que o Brasil está violando “liberdade de expressão” e promovendo censura digital, numa alusão direta ao Supremo Tribunal Federal, à regulação das Big Techs e ao julgamento de Jair Bolsonaro.
Mas o pano de fundo é mais profundo (e mais político): o comércio virou munição ideológica, e o Brasil está no meio do fogo cruzado.
Em sua carta, Trump alega déficit comercial com o Brasil — o que é mentira.
Os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando, neste período, 410 bilhões de dólares em superávit.
Ou seja, não é sobre economia. É sobre geopolítica.
E quando a ideologia substitui a lógica nos acordos comerciais, não adianta se você votou em A ou em B, são os empresários que pagam a conta.
A conta chegou. E ela é bilionária.
Os setores mais afetados pela tarifa de 50% são também os mais simbólicos do Brasil no exterior:
- Carnes bovina e suína
- Café e suco de laranja
- Soja, milho e óleo de soja
- Aço, alumínio e papel
- Carros, aviação e máquinas agrícolas
- Petróleo e derivados
É a espinha dorsal da exportação brasileira que está sendo alvejada.
Mas é importante olhar, também, para quanto representa, percentualmente, os EUA nas exportações brasileiras, antes de cair em narrativas políticas.
Adeptos do apocalipse vendem a ideia de que “é o fim do Brasil”. Será?
Negacionistas do perigo dizem que os EUA é só mais um comprador na fila do pão. Será?
A verdade é que as exportações pros Estados Unidos representam cerca de 12% das exportações brasileiras, com impacto de menos de 2% no PIB.
A China é a top1 do ranking, com cerca de 30% das exportações.
Ou seja, se a carta fosse em mandarim e não em inglês, o estrago seria muito maior.
A reação do mercado
Executivos do setor calçadista, por exemplo, disseram que a medida “é um balde de água fria”, justo quando o setor começava a recuperar mercado nos EUA. A ABIT e a CNI alertam para efeitos severos em empregos, cadeias produtivas e investimentos. A Firjan fala em isolamento comercial e perda de credibilidade.
O silêncio constrangedor das lideranças
O tarifaço escancarou um problema que é menos americano e mais nosso: a dependência estratégica do Brasil de relações que ele não sabe como proteger — nem pela diplomacia, nem pela governança.
Enquanto o foco estava em embates internos, o Brasil se tornou um parceiro previsível, mas não confiável. E quando os mercados nos olham com desconfiança, o capital simplesmente vai embora.
O tarifaço não é só uma punição — é um alerta.
E agora?
O governo reagiu com firmeza: devolveu a carta, anunciou que poderá usar a Lei de Reciprocidade Econômica e convocou reuniões com Alckmin, Haddad e Mauro Vieira. Mas nos bastidores, o que se espera é diplomacia ativa, e não bravata.
Lideranças empresariais, por sua vez, estão divididas:
- Uns culpam Lula, por criar tensões institucionais.
- Outros culpam Bolsonaro, por ser o motivo da represália.
- Mas poucos assumem que o setor privado brasileiro ainda é frágil na construção de pactos internacionais consistentes.
Quatro pontos que precisam ser ditos, goste você ou não:
- Não há narrativa de vitória possível quando mercados nacionais perdem acesso ao mercado americano.
- O mundo vê o comércio como política — e o Brasil ainda insiste em tratá-lo como protocolo.
- Não é sobre Bolsonaro ou Lula. É sobre a nossa incapacidade crônica de ter uma estratégia de Estado para o comércio exterior.
- Essa talvez seja a maior das verdades: ninguém está imune às ameaças um tanto quanto egocêntricas de Trump. Nem mesmo Elon Musk, que transita entre apoiador e ex-apoiador.
Fato é que o mercado não está interessado em narrativas. Ele quer estabilidade, previsibilidade e acesso.
A fatura do descompromisso com o longo prazo
O tarifaço de Trump talvez nem dure o ciclo eleitoral. Mas seu impacto já está imposto. O maior deles? Executivos finalmente percebendo que o risco político não é mais assunto só de Brasília, é também uma variável de mercado.
Ele deveria estar no seu Planejamento Estratégico.
Quem lidera empresas globais precisa de conselhos preparados, visão diplomática, leitura de cenário e estratégias adaptativas.
Do contrário, vai sobrar só retórica enquanto os contratos evaporam.
O que você deveria estar olhando agora:
Não perca tempo viralizando vídeos de políticos. Eles não estão nem aí para os seus negócios. Consumir, compartilhar e debater sobre isso vai gastar a energia que você deveria estar investindo em:
- Revisar contratos internacionais e reavaliar dependências dos EUA;
- Olhar para outros mercados e possibilidades. China, União Europeia, Emirados…
- Intensificar presença em fóruns globais e diplomacia empresarial;
- Construir reputação institucional ativa, para além de governos de plantão;
- E, acima de tudo: preparar conselhos e líderes para lidar com o imprevisível.
Porque quando a política vira tarifa, o CEO vira o diplomata do seu próprio negócio.
E o Brasil corporativo, goste ou não, está convocado para esse novo papel.
Fique com isso em mente: a sobrevivência, o lucro, o futuro do seu negócio está cada vez mais da porta para dentro, daquilo que você decide e faz, e menos da porta para fora, daquilo que Brasília pode fazer por você.