Manifestações clínicas como vômitos frequentes, diarreias recorrentes, hiporexia e perda de peso são inespecíficos, e indicam a necessidade de investigação clínica. Quando essas manifestações se prolongam por mais de três semanas, precisamos considerar as enteropatias crônicas, um termo que, atualmente, substitui a nomenclatura “doença inflamatória intestinal” (DII) na medicina veterinária.
Essa mudança terminológica reflete melhor a fisiopatogenia da doença em cães e gatos, que, diferentemente dos humanos com DII (como doença de Crohn ou colite ulcerativa), costumam responder ao manejo dietético. Em muitos casos, a simples troca de alimento é suficiente para o controle clínico, dispensando o uso de medicamentos.
Nos gatos, a enteropatia crônica pode ser confundida facilmente com o linfoma de pequenas células, já que ambas as doenças compartilham manifestações clínicas semelhantes, representando um desafio diagnóstico adicional. Além disso, é comum que os felinos apresentem apenas vômito crônico, sem diarreia, alteração frequentemente considerada “normal” por muitos tutores, o que pode dificultar o diagnóstico.
O primeiro passo do diagnóstico das enteropatia crônicas é descartar todas as possíveis causas: de origem extraintestinais, como doença renal crônica, hipertireoidismo, insuficiência pancreática exócrina e pancreatite, ou de origem intestinal como quadros infecciosos, parasitários e neoplásicos.
Após excluir as causas extraintestinais e intestinais, o manejo nutricional torna-se ponto chave no diagnóstico da doença.
Estudos mostram que cerca de 60% dos gatos com enteropatia crônica apresentam resposta favorável apenas com a mudança dietética. Dentre as opções de alimentos disponíveis, temos os alimentos coadjuvantes com perfil gastrointestinal ou hipoalergênicos. Ambos com estudos que demostram melhora dos quadros de enteropatia crônica.
Estudos demonstraram que alimentos coadjuvantes gastrointestinais reduziram as manifestações clínicas em quadros de enteropatia crônica em gatos, ao melhorar a digestibilidade e fornecer prebióticos. Alimentos com alta digestibilidade proporcionam digestão e absorção mais eficiente dos nutrientes, e a inclusão de prebióticos auxilia na modulação da microbiota intestinal.
Alimentos hipoalergênicos formulados com proteínas hidrolisadas também são eficazes no manejo da enteropatia crônica em felinos. Por meio da hidrólise enzimática, as proteínas hidrolisadas são fragmentadas em peptídeos de baixo peso molecular, o que minimiza o reconhecimento pelo sistema imunológico e reduz a chance de reação adversa. Essa característica também fornece ao alimento alta digestibilidade.
Além disso, alimentos hidrolisados são recomendados em casos de tríade felina, nos quais há inflamação concomitante do intestino, pâncreas e fígado.
Em contrapartida, alimentos hipoalergênicos formulados com proteína inédita não são indicados para fins diagnósticos, visto que entre 33% a 83% desses alimentos apresentavam contaminação com ingredientes não declarados no rótulo em estudos. Em contraste, os alimentos hidrolisados avaliados não demostraram esse tipo de contaminação.
Vale ressaltar que, apesar da disponibilidade de testes alérgicos no mercado, o protocolo mais confiável para diagnóstico das reações adversas ao alimento ainda é a dieta de eliminação com alimento hipoalergênico de proteína hidrolisada, seguido pela reintrodução gradual da dieta anterior (teste provocativo). Esse método é considerado o padrão ouro tanto para manifestações gastrointestinais quanto cutâneas.
Confira o artigo completo “Gastrointestinal ou Hipoalergênico?”, na íntegra e sem custo, acessando a página 36 da edição de agosto (nº 312) da Revista Cães e Gatos.