Durante as manifestações da direita americana, era comum ver bandeiras, camisas, faixas, bonés e adesivos de carro com apenas o número 1776. É o ano de um evento histórico significativo para eles: a Declaração da Independência. Em 4 de julho daquele ano, o Congresso Continental adotou a Declaração da Independência, que proclamava a separação das Treze Colônias da Grã-Bretanha e estabelecia os Estados Unidos da América como uma nação independente. Essa declaração foi um marco importante e lançou as bases para a formação dos Estados Unidos como uma nação soberana.
No Brasil, o imaginário popular remonta sempre ao ocorrido em 1964, ou seja, o ano da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, mais precisamente, os efeitos dela. Não é difícil encontrar pessoas que afirmam ter os militares salvado o Brasil dos comunistas. Sobre Março de 1964, expôs o filósofo e escritor Olavo de Carvalho em seu artigo “A História oficial de 1964”:
“Se houve na história da América Latina um episódio sui generis, foi a Revolução de Março (ou, se quiserem, o golpe de abril) de 1964. Numa década em que guerrilhas e atentados espoucavam por toda parte, seqüestros e bombas eram parte do cotidiano e a ascensão do comunismo parecia irresistível, o maior esquema revolucionário já montado pela esquerda neste continente foi desmantelado da noite para o dia e sem qualquer derramamento de sangue.
O fato é tanto mais inusitado quando se considera que os comunistas estavam fortemente encravados na administração federal, que o presidente da República apoiava ostensivamente a rebelião esquerdista no Exército e que em janeiro daquele ano Luís Carlos Prestes, após relatar à alta liderança soviética o estado de coisas no Brasil, voltara de Moscou com autorização para desencadear – por fim! – a guerra civil no campo. Mais ainda, a extrema direita civil, chefiada pelos governadores Adhemar de Barros, de São Paulo, e Carlos Lacerda, da Guanabara, tinha montado um imenso esquema paramilitar mais ou menos clandestino, que totalizava não menos de 30 mil homens armados de helicópteros, bazucas e metralhadoras e dispostos a opor à ousadia comunista uma reação violenta. Tudo estava, enfim, preparado para um formidável banho de sangue.”
E se um observador desatento não consulta os textos e documentos comunistas da época, pensa que os civis estavam orquestrando uma resistência com o suporte dos militares, e não militares de patente baixa, mas das mais altas esferas, o generalato. O que não é verdade e pode ser facilmente comprovado com a leitura de “Depoimento”, um livro em formato de depoimento jornalístico gravado durante 34 horas entre jornalistas e Carlos Lacerda, o mais poderoso e influente líder civil da época.
Assistam à esta importante entrevista de Carlos Lacerda a William Frank Buckley Jr., autor, intelectual, comentarista político americano, fundador da revista National Review, e um dos proeminentes conservadores do século XX:
Ainda no artigo “A História oficial de 1964”, o Prof. Olavo de Carvalho ratifica:
“As lideranças esquerdistas, que até a véspera se gabavam de seu respaldo militar, fugiram em debandada para dentro das embaixadas, enquanto a extrema-direita civil, que acreditava ter chegado sua vez de mandar no país, foi cuidadosamente imobilizada pelo governo militar e acabou por desaparecer do cenário político.”
Sim, os militares traíram os líderes políticos de esquerda e fizeram de tudo para varrer a direita em todas as esferas: nos jornais, nas universidades e nos partidos políticos. E como o objetivo do artigo não é tratar de Março de 64, basta que se entenda que a recordação desse episódio da história brasileira não representa os anseios dos brasileiros que hoje clamam por liberdade. E se há quem insista nisso, a razão é a falta de cultura, leitura e estudos sobre o episódio. É esperável que após a confissão do General Dutra, essa idéia falsa de Forças Armadas patrióticas caia por terra.
Aceitando qualquer título
Um título de nobreza é uma designação honorífica concedida a uma pessoa em reconhecimento de seu status social, hereditário ou conquistado. Esses títulos são geralmente associados à aristocracia e à hierarquia social em determinadas sociedades ou sistemas de governo, como nas monarquias. Os títulos, nobres ou não, designam privilégios ou a ausência deles.
A direita brasileira facilmente aceita títulos nada nobres e de natureza confessadamente pejorativa, como “reacionário”, “pró-ditadura” e ultimamente aceitou de bom grado o de “Bolsonarista”. Esse último foi rechaçado pelo próprio Bolsonaro. Claro que o uso do termo “bolsonarista” como alguém que apóia o político Jair Bolsonaro é normal e aceitável, mas se ele perder os direitos políticos ou desistir da carreira política, nada mais resta do termo, pois a finalidade inicial é apenas que ele seja eleito em cargos políticos. Em 64 não foi diferente. Os apoiadores de Carlos Lacerda nada mais tinham com o quê se identificar depois que o político se viu impossibilitado a vencer o generalato que por nada largariam o osso.
Conservador é o adjetivo que mais representa a realidade dos fatos concretos em torno das atividades dos anti-comunistas no Brasil atualmente, embora o anti-comunismo em geral não inclui apenas conservadores.
Mas de onde o brasileiro irá tirar sua inspiração? Do golpe que os militares deram em Lacerda? Da ditadura de Vargas, que era uma fascista de merda? Do golpe republicano?
A resposta não é o objetivo do meu artigo. Espero que os representantes desse movimento de repulsa ao comunismo debata o assunto. E você, leitor? O que acha?
fonte: Terça Livre